"A criação geme e sofre as dores de parto" (Rm 8,22)
As notícias e imagens dos devastadores incêndios que destroem a floresta amazônica causaram perplexidade, tristeza e indignação diante de um crime ambiental de proporções alarmantes, com consequências imprevisíveis e danos que podem tornar-se irreparáveis e irreversíveis. Tais fatos e sua repercussão mundial envergonham o Brasil e os brasileiros. Chefes de Estado e governantes de diversas nações expressaram sua preocupação e veemente reprovação. Cidadãos no Brasil e no exterior se unem em manifestações populares para mostrar que a defesa da vida humana e do bem comum passa pelo cuidado com o Planeta Terra, que o Papa Francisco denomina na Encíclica Laudato Si' de "casa comum". Sim, o Planeta é a "casa comum" e a preservação da floresta amazônica, com suas árvores, seus animais e sua rica biodiversidade não diz respeito só ao Brasil, mas é direito e dever de toda a humanidade. O que está em jogo é o oxigênio que se respira, a água a que todos têm direito, o ciclo natural das chuvas, a preservação das espécies e a sustentabilidade da vida no Planeta. Denunciar a devastação e ocupar-se da preservação da Amazônia não representa ameaça à soberania; pelo contrário, o que a ameaça é a ganância, a insensatez e o retrocesso que os brasileiros estão assistindo nos dias atuais, especialmente corroborados pelas lamentáveis declarações de autoridades governamentais. É momento de rezar, tomar consciência, assumir um processo interior de conversão, resgatar os verdadeiros valores, isto é, um modo de agir sóbrio e coerente. É a hora de exercer a cidadania por meio de atitudes nobres, firmes e corajosas, na vida pessoal e social, que comprovem uma real e eficaz mudança de comportamento em favor da vida, da justiça, da paz e de um mundo ecologicamente sustentável. O cristão é chamado a ser profeta do cuidado, por meio de palavras e gestos que revelem compromisso, respeito, admiração e contemplação da beleza da criação, obra do infinito amor de Deus, como tão bem ensinou São Francisco de Assis. É preciso cuidar com o olhar de Deus, que "formou a terra e firmou suas bases não para ser um deserto mas sim terra habitável" (cf. Is 45,18); o mesmo Deus que criou "o ser humano e o colocou no jardim, para cultivar e guardar a criação" (Gn 2,15). Convido as paróquias, capelas e cada católico da Diocese de Mogi das Cruzes a unirem-se em oração, especialmente no próximo domingo, em defesa da Amazônia e da Vida no Planeta. Cuidar da criação é missão de todo cidadão, de todo cristão, de toda pessoa de boa vontade e de toda a Igreja, pois desde o início "Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom" (Gn 1,31). Deus inspire e abençoe a todos! Dom Pedro Luiz Stringhini Bispo diocesano Mogi das Cruzes, 23 de agosto de 2019
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