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  • Em dois anos, país tem mais 5 milhões de 'subutilizados' e 1,6 milhão de desalentados

    Segundo o IBGE, no segundo trimestre a subutilização da mão de obra chegou a 27,6 milhões: queriam trabalhar mais, mas não conseguiram. E 4,8 milhões desistiram de procurar trabalho Por Redação RBA 17/08/2018 17:04 Créditos da foto: Retrato do Brasil: multidão procura emprego em mutirão do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, no início deste mês (Reprodução) São Paulo – O país fechou o segundo trimestre com 27,636 milhões de subutilizados, termo usado pelo IBGE para definir o conjunto de desempregados e aqueles que gostariam de trabalhar mais, mas não conseguem. Um número estável diante do primeiro trimestre, mas que subiu em relação a igual período de 2017, com a taxa passando de 23,8% para 24,6%. No segundo trimestre de 2016, eram 22,651 milhões. Assim, depois de dois anos, a partir do impeachment de Dilma Rousseff, esse contingente aumentou em quase 5 milhões. Pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados nesta quinta-feira (16), isso acontece também com os desalentados, aquelas pessoas que desistiram de procurar emprego por diversas razões. Eram 4,833 milhões no final do segundo trimestre – a maior quantidade da série histórica, iniciada em 2012 –, ante 4,630 milhões no primeiro, 3,994 milhões há um ano e 3,242 milhões em 2016 – 1,6 milhão a mais em dois anos. Os desalentados somam 4,4% da força de trabalho, também o maior percentual da série. Eram 3,7% um ano atrás. Mas chegam a 16,2% no Maranhão e a 16,6% em Alagoas. E se reduzem a 1,2% no Rio de Janeiro e a 0,7% em Santa Catarina. Segundo o IBGE, as maiores taxas de subutilização são as de Piauí (40,6%), Maranhão e Bahia (ambos com 39,7%). E as menores, de Santa Catarina (10,9%), Rio Grande do Sul (15,2%) e Rondônia (15,5%). Em São Paulo, a taxa é de 13,6%. Perfil do desemprego Considerada apenas a taxa de desemprego, as maiores no segundo trimestre foram apuradas em Amapá (21,3), Alagoas (17,3%), Pernambuco (16,9%), Sergipe (16,8%) e Bahia (16,5%). As menores, em Santa Catarina (6,5%), Mato Grosso do Sul (7,6%), Rio Grande do Sul (8,3%) e Mato Grosso (8,5%). A taxa média brasileira foi de 12,4%. Entre as capitais, a maior é a de São Luís (19,6%) e a menor, de Florianópolis (6,3%). A proporção diminuiu, mas as mulheres ainda são maioria (51%) entre os desempregados. A taxa de desemprego delas é de 14,2%, ante 11% dos homens. Quase 35% dos desempregados têm de 25 a 39 anos, 32% têm de 18 a 24 anos e 22,7%, de 40 a 59 anos. Pretos e pardos (classificação do IBGE) representam 64,1% dos desempregados e brancos, 35%. A taxa de desemprego dos pretos é de 15,5% e a dos brancos, de 9,9%. No recorte por escolaridade, a maior taxa de desemprego segue sendo a do grupo com ensino médio incompleto (21,1%). Entre os que têm ensino superior completo, cai para 6,3%. De acordo com a Pnad, 74,9% dos empregados no setor privado tinham carteira assinada no segundo trimestre, 0,9 ponto percentual a menos do que em igual período do ano passado. No trabalho doméstico, a proporção de registro em carteira caiu de 30,6% para 29,4%. O país tinha 91,2 milhões de ocupados no final do segundo trimestre. Desse total, 67,6% eram empregados (incluindo domésticos), enquanto 25,3% trabalhavam por conta própria, percentuais que sobem para 34,3% no Pará, 33% no Maranhão e 32,2% no Amazonas. *Publicado originalmente naRede Brasil Atual FONTE: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Trabalho/Em-dois-anos-pais-tem-mais-5-milhoes-de-subutilizados-e-1-6-milhao-de-desalentados/56/41423

  • Para que serve a Ética na Política?

    Que tal uma hipótese bem notória e conhecida? Suponhamos que um magnata da construção civil, por exemplo, resolva apoiar um certo partido e, a partir dele, um determinado aspirante à política, financiando nutridamente a campanha eleitoral do candidato. Este, se eleito, terá dificuldade em se manter neutro na hora de decidir que obras devem ter prioridade durante o seu mandato, onde construí-las e que empresas chamar à licitação. Isso partindo do pressuposto que haverá licitação, por um lado, e, por outro, que essa não representará uma farsa previamente orquestrada. Entra em cena o conceito de “conflito de interesses”. Os interesses do político em questão, tanto no poder executivo quanto no legislativo, ou mesmo no judiciário, em lugar de ter como horizonte as obras ligadas às necessidades básicas e mais urgentes da população, podem entrar em conflito com tais exigências do bem-estar comum para as quais foi eleito. O prato da balança facilmente penderá para um compromisso, ou uma aliança, com quem, financeiramente, o ajudou a eleger-se. Há uma dívida a ser paga e o poder adquirido pode facilitar a negociação! Querendo ou não, de forma consciente ou inconsciente, vem à tona a armadilha. O conflito de interesses tem tudo para converter-se em “convergência de interesses” entre doador e beneficiado. O filósofo alemão Friedrich Hegel, em sua Filosofia da História, alertava para a astúcia da razão. A política também padece de uma astúcia particular, às vezes sutil, outras vezes nem tanto. Em outras palavras, nosso político eleito e nosso empresário da construção civil, ao invés de reconhecer um conflito de interesses tão manifesto e consequentemente repudiá-lo, podem terminar por selar um pacto que os unirá em uma empresa furtiva e obscura, mas reciprocamente rendosa. Lamentavelmente, é bastante comum que eleitor e candidato mantenham os olhos fechados a essa possibilidade de que o conflito, mais ou menos encoberto, se transforme em convergência vantajosa de interesses. Disso resultam não poucas formas de corporativismo, de nepotismo e de apadrinhamento, para não falar de cumplicidade e corrupção. Instalam-se, assim, os históricos e famigerados currais eleitorais, bem como os balcões de negócios, onde se compram e se vendem cargos, benefícios, privilégios, poder de influência, e assim por diante. De que maneira rasgar o véu que, bem ou mal, esconde tais práticas políticas? Como eliminar a máscara que as dissimula aos olhos da opinião pública e, não raro, às câmaras, microfones e holofotes dos próprios meios de comunicação? Isso quando estes últimos não fazem parte do mesmo conluio, usado palavras e imagens em benefício próprio! É aqui que ganha relevância a pergunta do título: para que serve a ética na política? O exemplo acima torna a resposta muito simples e transparente: serve para identificar os possíveis conflitos de interesses que estão em jogo, precavendo-se contra eles desde o momento do registro da candidatura. Os princípios éticos, neste caso, são chamados não somente a discernir tais armadilhas, ou astúcias, mas sobretudo a impedir que eleitores e candidatos possam cair na ratoeira. Nesse ponto, a Doutrina Social da Igreja (DSI), ao longo do tempo, sempre se revelou muito clara e objetiva. “A política é a forma mais sublime de praticar a caridade” – escreveu o Papa Paulo VI na Carta Encíclica Octagesima Advenians (1971). Os fundamentos da DSI – mas também a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quase todas as Constituições dos países democráticos ocidentais e os Mass Media – advertem insistentemente para semelhante risco no exercício normal do poder. Advertência que serve para iluminar o vasto e complexo campo da atividade pública, separando com cuidado o joio do trigo, para usar uma parábola do Evangelho (Mt, 13,24-30). O terreno escorregadio da política (como tantos outros, de resto) presta-se, com efeito, ao crescimento de ervas daninhas. Não faltam espinhos na arena da disputa pelo poder. Mas o mesmo terreno presta-se igualmente ao favorecimento de políticas públicas que garantam ao maior número de pessoas o desenvolvimento, a justiça, os direitos básicos e a paz. ​ Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs – Roma 11 de agosto de 2018

  • Agrotóxicos intoxicaram 26.000 brasileiros em dez anos

    Levantamento feito pela agência Pública revela que 1.824 morreram por causa de venenos agrícolas BRUNO FONSECA (AGÊNCIA PÚBLICA) 11 AGO 2018 - 11:38 BRT BRUNO FONSECA / AGÊNCIA PÚBLICA Cerca de 40.000 pessoas foram atendidas no sistema de saúde brasileiro após serem expostas a agrotóxicos nos últimos dez anos, segundo um levantamento inédito feito pela Pública com base nos dados do Ministério da Saúde. Desse total, 26.000 pacientes tiveram intoxicação confirmada por médicos, com sinais clínicos como náuseas, diarreias ou problemas respiratórios, ou mesmo alterações bioquímicas no sangue e urina detectadas por exames laboratoriais. A média equivale a sete pessoas intoxicadas por dia. Homens são a maioria dos afetados por agrotóxicos agrícolas e a maioria dos pacientes tem ensino fundamental incompleto. Segundo os registros, na maior parte dos casos o paciente foi curado. Mas há centenas de casos de mortes: 1.824 pessoas morreram devido à intoxicação e outras 718 pessoas permaneceram com sequelas, como insuficiência respiratória, problemas nos rins ou lesões no fígado. O levantamento foi feito com base em registros de 2007 a 2017 no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. Os dados revelam também uma grande quantidade de tentativas de suicídio por agrotóxicos e milhares de envenenamentos no ambiente de trabalho. Agrotóxicos são amplamente usados em suicídios As circunstâncias nas quais ocorrem as intoxicações são variadas, mas os dados revelam duas situações principais: suicídios e acidentes. Nos últimos dez anos, mais de 12 mil pessoas tentaram suicídio com agrotóxicos em todo o Brasil. Dessas tentativas, 1.582 resultaram em mortes. Outras 231 tiveram cura, mas com sequelas. A maioria absoluta das tentativas de suicídio ocorreu no Paraná, com 2.140 registros. Em seguida vêm São Paulo e Pernambuco. Agrotóxicos agrícolas são a terceira substância mais comum em tentativas de suicídio no Brasil, atrás de medicamentos e produtos para matar ratos. A quantidade de pessoas que tentaram suicídio no Brasil com agrotóxicos é quase oito vezes maior do que a dos que tentaram por abuso de drogas ilícitas ou lícitas, como álcool e anfetaminas. A letalidade das tentativas de suicídio por agroquímicos é preocupante: é a maior entre todos os agentes utilizados nesses casos. Mais de 12% das tentativas de suicídio com intoxicação confirmada resultaram em morte, taxa dez vezes maior que a de pessoas que tentaram o suicídio com medicamentos. Trabalhadores com baixa escolaridade são os que mais se acidentam Fora as tentativas de suicídio, os acidentes são a segunda principal causa de intoxicação por agrotóxico no Brasil. Nos últimos dez anos, foram mais de 7 mil ocorrências. A maioria delas (62%) aconteceu em ambiente de trabalho. O Paraná é o estado com o maior número absoluto: foram 1.082 casos confirmados nos últimos dez anos. A maioria dos casos de envenenamentos acidentais em ambiente de trabalho levou à cura sem sequela. Contudo, há 65 casos de sequelas após o tratamento e 32 mortes por intoxicação. Mais da metade dos acidentes de trabalho com agrotóxicos envolve pessoas de 20 a 39 anos. Para cada mulher envenenada, há quase seis homens. E o grau de escolaridade mais comum é da 5ª à 8ª série do Ensino fundamental incompletas. Para a professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) Larissa Bombardi, trabalhadores rurais são especialmente vulneráveis às intoxicações não apenas porque lidam diretamente com os agrotóxicos, mas também porque as intoxicações crônicas – que ocorrem após anos de exposição às substâncias – dificilmente são percebidas pelo sistema de saúde. “Quem são os mais intoxicados são os trabalhadores rurais e os camponeses, que estão manuseando esses produtos”, explica. “O que mais vai aparecer são as intoxicações agudas, o sujeito passou mal e procurou o serviço de saúde, ou seja, os efeitos mais visíveis. Já as crônicas aparecem com muito menos importância nos dados. Por exemplo, o câncer e a malformação fetal podem ser multifatoriais. Precisaria de um cuidado muito maior do sistema de saúde para identificar esses casos, embora a gente saiba que existem”, avalia. Larissa, que é autora do Atlas do uso de agrotóxicos no Brasil, indica que, embora haja dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde e pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ainda faltam informações necessárias para aprofundar as pesquisas sobre intoxicações. “Estamos começando a desenvolver uma metodologia que avalie a conexão entre malformação fetal e câncer com a exposição a agrotóxicos, mas falta um mundo de pesquisa. A gente não tem informação detalhada de consumo de agrotóxicos por município, o montante utilizado em cada cidade, sobre pulverização aérea em todos os estados, ou seja, faltam dados oficiais”, avalia. Paraná é recordista em envenenamentos O estado brasileiro com a maior quantidade absoluta de exposições e intoxicações por agrotóxicos nos últimos dez anos é o Paraná, com 4.648 registros. O estado é o segundo do Brasil com maior área plantada do país e também o segundo com a maior quantidade de estabelecimentos que utilizam agrotóxicos, segundo dados do Censo Agro 2017, do IBGE. Entre as principais produções agrícolas no estado estão cevada, feijão, milho, trigo e soja. Após o Paraná, São Paulo e Minas Gerais são os estados com maior quantidade absoluta de estabelecimentos que utilizam venenos agrícolas. Nos últimos dez anos, o Paraná se manteve como um dos estados com maiores taxas de intoxicação por habitante. Contudo, desde 2011, os registros de intoxicação subiram no Espírito Santo, que é hoje a unidade da Federação com maior quantidade de intoxicações em relação à população. O Paraná é o estado do deputado Luiz Nishimori (PR), relator do Projeto de Lei (PL) 6.299, de 2002, que altera a legislação sobre os agrotóxicos, transferindo o poder regulatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – vinculada ao Ministério da Saúde – para o Ministério da Agricultura, entre outras medidas. A Pública questionou o deputado se a proposta, caso aprovada, não poderia aumentar os casos de intoxicação no seu próprio estado, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. O PL 6.299 é duramente criticado pela própria Anvisa, que afirma que as mudanças regulatórias trarão riscos à saúde da população. A Comissão Científica em Vigilância Sanitária (CCVISA) mostra que o projeto “vai na contramão da tendência internacional de consumo e comércio, representando um risco às exportações agrícolas brasileiras, podendo inclusive afetar a balança comercial do país”. Por outro lado, a Sociedade Brasileira Rural (SBR), entidade que representa produtores rurais, defende que o projeto não irá aumentar a quantidade de intoxicações, pois elas ocorrem “pela aplicação equivocada dos defensivos, sejam eles químicos ou orgânicos, da mesma forma que ocorre com os medicamentos”, afirma o diretor João Adrien. “A lei atual funciona como uma barreira que protege as multinacionais que já estão no mercado, inibindo a entrada de novas empresas. Mas as startups com novas tecnologias, novos produtos, que surgirão com uma lei menos discricionária, menos burocrática e mais eficiente, poderão ter menor toxicidade”, argumenta. Pressão constante sobre a Anvisa A Pública questionou o Ministério da Agricultura sobre as intoxicações e a pasta respondeu em uma nota que “um produto só é liberado se considerado que, se utilizado conforme as recomendações de uso, não coloque em risco a saúde humana e o meio ambiente”. A assessoria do Ministério da Agricultura ainda acrescentou que “o número de intoxicações com medicamentos é muitas vezes superior ao dos pesticidas” e que medidas para evitar o aumento das intoxicações são “competência das autoridades de saúde humana”, completou. O atual ministro, Blairo Maggi (PP-MT), é o autor do PL 6.299. O projeto de lei foi apresentado dois meses depois de o Decreto 4.074 ter estabelecido a competência da Anvisa para avaliar e reavaliar os registros de agrotóxicos conforme o grau de toxidade. Segundo Luiz Cláudio Meirelles, que foi gerente-geral de toxicologia da Anvisa de 1999 a 2012, sempre houve pressão contrária à ação dos ministérios da Saúde e do Meio Ambiente na regulamentação dos agrotóxicos. “Durante a gestão tivemos muitas brigas com empresas de agrotóxicos e parte do agronegócio por conta dessas mudanças na área regulatória, várias tentativas de tirar a competência [da Anvisa]. O projeto de lei é de 2002, está conseguindo avançar agora por conta da conjuntura política atual, mas a gente passou esses anos todos resistindo para que a competência nas áreas de saúde e meio ambiente não fossem retiradas. A gente não queria impedir que a produção agrícola exista, mas que incorpore novas tecnologias e que proteja a população”, critica. Meirelles esteve na Anvisa também durante a implementação da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), sistema que fornece informações, diagnostica e trata envenenamentos por agrotóxicos e outras substâncias em todo o país. Segundo ele, os números reais de intoxicação são muito maiores que os apontados pelo sistema de notificações – a estimativa é que, para cada caso reportado, 50 não sejam informados. Assim, nos últimos dez anos, o número real de pessoas intoxicadas no Brasil poderia chegar a 1,3 milhão, isto é, mais de 300 pessoas intoxicadas por dia. “Lidamos com uma informação muito aquém daquela que deveria ser produzida até para orientar as políticas públicas nessa área”, reconhece o especialista. No início de julho, contudo, a Anvisa publicou orientação de serviço 49/2018, que permite o processo de registro de agrotóxicos por “analogia”, isto é, quando já forem aprovados no mercado dos Estados Unidos ou na Europa, facilitando mais o uso de pesticidas. A Pública procurou o órgão para comentar a repercussão da publicação da portaria, mas não obteve retorno. Para a médica do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Brasília, Andrea Amoras Magalhães, além da subnotificação pela dificuldade de muitas pessoas acessarem o sistema de saúde, é preciso treinar melhor os profissionais para identificar e tratar exposições a agrotóxicos. “A gente só faz diagnóstico daquilo que a gente conhece. A exposição aguda é muito mais fácil de identificar. Falta ao sistema de saúde estar mais preparado para fazer diagnóstico da intoxicação crônica [que ocorre após várias exposições de menor dosagem]. Temos uma deficiência do ensino de toxicologia nas faculdades de medicina – que eu posso falar com mais proximidade –, mas, de uma maneira geral, dos diversos profissionais de saúde”, avalia. Relatório aponta intoxicação em crianças na zona rural e cobra providências Em maio de 2013, cerca de 90 pessoas, a maioria delas crianças, foram internadas após um avião pulverizar agrotóxico em uma plantação próxima a uma escola rural em Goiás. A situação foi documentada no relatório da ONG Human Rights Watch, divulgado em julho deste ano, que coletou relatos de intoxicação em comunidades indígenas, quilombolas e rurais em sete estados do país. “É preciso delimitar uma zona de segurança para pulverização terrestre – em torno de locais como escolas, prédios ou áreas habitadas – porque até o momento não existe uma norma nacional. Para pulverização aérea existe, mas ela não é respeitada. Deveria ocorrer a suspensão da pulverização aérea enquanto as autoridades conduzam estudos sobre os impactos ambientais e à saúde”, explica um dos autores do estudo e consultor da Human Rights Watch, João Guilherme Bieber. Segundo o pesquisador, a intoxicação de crianças que estudam ou vivem em áreas pulverizadas é ainda mais grave, pois os danos à saúde são mais severos. Segundo os dados do DataSUS, nos últimos dez anos, 1.484 crianças de até 9 anos foram intoxicadas por agrotóxicos no país. Após a publicação do relatório, o secretário de Defesa Agropecuária, Luís Eduardo Rangel, se comprometeu a formalizar as distâncias de aplicação terrestre de agrotóxicos para evitar contaminação de pessoas. Procurado pela Pública, o Ministério da Agricultura respondeu que a competência para normatização e controle de uso de agrotóxicos é dos órgãos estaduais e do Distrito Federal e que uma proposta de instrução normativa está sendo elaborada para ser discutida no Fórum Nacional dos Executores de Sanidade Agropecuária (Fonesa). FONTE: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/11/politica/1533993943_113452.html

  • No Brasil, dois países: para negros, assassinatos crescem 23%. Para brancos, caem 6,8%

    Atlas da Violência 2018 aponta que desigualdade racial no Brasil "se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal" (Foto:Victor Moriyama) São Paulo - 17 JUN 2018 - 14:04 BRT O alagoano J.S, 21, infelizmente tinha contra si dois fatores. Era jovem e negro. Em seu Estado isso significa que ele tinha as mesmas chances de ser assassinado do que se morasse em El Salvador, um dos países mais violentos do mundo com uma taxa de homicídio de 60 mortos por 100.000 habitantes. Terminou baleado caído na calçada no bairro Chã da Jaqueira, periferia de Maceió. Destino diferente teve P. H. Z., 27. Apesar da pouca idade, o conterrâneo de Silva foi aprovado em concurso para ser diplomata pelo Itamaraty. Assim como Silva, ele é alagoano. Mas com uma diferença: a cor de sua pele é branca. Para um homem branco em Alagoas, as chances de ser morto são baixíssimas, as mesmas dos Estados Unidos: 5,3 homicídios por 100.000 habitantes. A Organização Mundial de Saúde considera epidêmicas taxas acima de 10. Os dados sobre violência no Brasil constam no Atlas da Violência 2018, organizado em parceria entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "É como se, em relação à violência letal, negros e não negros vivessem em países completamente distintos. Em 2016, por exemplo, a taxa de homicídios de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros (16,0 por 100.000 habitantes contra 40,2)", diz o texto. O relatório analisou os dados mais recentes disponíveis, de 2016, fornecidos pelo Ministério da Saúde. Os casos de Silva e Zacarias foram encontrados pela reportagem no noticiário local alagoano. O caso de Alagoas, destaca o estudo, é "especialmente interessante, pois o Estado teve a terceira maior taxa de homicídios de negros (69,7 por 100.000 habitantes) e a menor taxa de homicídios de não negros do Brasil (4,1)". Ao compilar uma década de homicídios de negros, o Atlas chega a conclusões sombrias, que tornam impossível ignorar o racismo existente no país. "Em um período de uma década, entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%. No mesmo período, a taxa entre os não negros teve uma redução de 6,8%", diz o relatório. As maiores taxas de assassinatos de negros no Brasil se encontra em Sergipe (79 por 100.000 habitantes) e Rio Grande do Norte (70,5). As menores taxas de homicídios de negros são a de São Paulo (13,5), Paraná (19) e de Santa Catarina (22). "A conclusão é que a desigualdade racial no Brasil se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança", afirma o estudo. A situação das mulheres negras também é grave: a taxa de homicídio entre elas "foi 71% superior à de mulheres não negras". Os homens, no entanto, continuam sendo as maiores vítimas da violência. Em apenas um Estado brasileiro, o Paraná, a taxa de homicídios entre não negros foi maior do que a de negros: 30,6 por 100.000 habitantes e 19, respectivamente. O Atlas também aponta que São Paulo se desta "por ser o Estado no qual as taxas de homicídios de negros e de não negros mais se aproximavam (13,5 e 9,1, respectivamente)". Juventude morta a bala Além da cor da pele, outro fator contribui (e muito) para que uma pessoa seja assassinada no Brasil. A idade. "A vitimização por homicídio de jovens (entre 15 e 29 anos) no país é fenômeno denunciado ao longo das últimas décadas, mas que permanece sem a devida resposta em termos de políticas públicas que efetivamente venham a enfrentar o problema", diz o estudo. No país, 33.590 jovens foram assassinados em 2016, sendo 94,6% do sexo masculino. Esse número representa um aumento de 7,4% em relação ao ano anterior. O dado é péssimo especialmente porque em 2015 houve uma pequena redução ante 2014, de -3,6%. Violência nos Estados Com relação à violência nos Estados, onze deles apresentaram crescimento gradativo da violência letal nos últimos 10 anos. Com exceção do Rio Grande do Sul, todos ficam nas regiões Norte e Nordeste do país. Sergipe lidera como o mais violento, com 64,7 homicídios por 100.000 habitantes em 2016, seguido pelo Acre, com 54,2. Para efeito de comparação, São Paulo teve taxa de 10,9. Em números absolutos a Bahia fica em primeiro lugar: foram 7171 homicídios em 2016, mais do que o Rio de Janeiro, que teve 6.053. Os destaques positivos do Atlas vão para a Paraíba e o Espírito Santo, Estados que "mostraram diminuições gradativas nas taxas de homicídios". Segundo o Estudo, isso se deve ao lançamento, em 2011, dos programas “Paraíba pela Paz” e o “Estado Presente”. "Naquele ano, os dois estados ocupavam, nessa ordem, o lugar de 3ª e 2ª Unidades Federais mais violentas do país. Em 2016, eram o 18º e 19º mais violentos", diz o texto. Já São Paulo São Paulo "continua numa trajetória consistente de diminuição das taxas de homicídios, iniciada em 2000, cujas razões ainda hoje não são inteiramente compreendidas pela academia". Dentre os possíveis fatores elencados estão o maior controle sobre armas de fogo, melhoria na organização policial, redução demográfica no número de jovens e até mesmo a ação do Primeiro Comando da Capital, grupo criminoso que teria ajudado a brecar as mortes nas periferias. Mortos pela polícia A Polícia que mais mata no Brasil é a do Rio de Janeiro. Em 2016, 538 pessoas perderam a vida pelas armas das tropas do Estado, quase o dobro do número registrado no ano anterior (281). No total, 4.222 brasileiros foram mortos pela polícia naquele ano. FONTE:https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/05/politica/1528201240_021277.html

  • 33 milhões de brasileiros não têm onde morar, aponta levantamento da ONU

    Situação favorece aumento de ocupações como a do Edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou após um incêndio, em São Paulo. No DF, há deficit de 132 mil moradias Otávio Augusto postado em 03/05/2018 12:16 / atualizado em 03/05/2018 12:59 Em nove anos, foram investidos R$ 4 bilhões em construção de moradias, segundo governo federal (Foto: Antonio Cunha/CB/D.A Press) A ruína do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou após um incêndio, revela um problema crônico no Brasil: o deficit de moradia. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), revela que subiu 1,4% o número de invasões no país entre 2016 e o ano passado. São 145 mil domicílios nessa situação, ante 143 mil em 2015. Faltam no país 6,3 milhões de domicílios, segundo levantamento feito em 2015 pela Fundação João Pinheiro (FJP). Marco da arquitetura modernista, o prédio construído na década de 1960 estava ocupado pelos sem-teto do Movimento de Luta Social por Moradia havia seis anos. Cerca de 170 famílias viviam no local. São Paulo é recordista no ranking do deficit habitacional: faltam 1,3 milhão de residências. Completam a lista Minas Gerais (575 mil), Bahia (461 mil), Rio de Janeiro (460 mil) e Maranhão (392 mil). No DF, há uma carência de 132 mil moradias. Ao todo, cerca de 33 milhões de brasileiros não têm onde morar, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos. Mesmo com iniciativas do governo federal, como o programa Minha Casa Minha Vida, o problema tem se acentuado. Especialistas em habitação traduzem os números: a falta de moradia aumenta o número de invasões e de população favelada — o índice chegou a 11,4 milhões, segundo o Censo 2010 do IBGE. Karina Figueiredo, mestre em política social, explica que é necessária a implementação de política pública de habitação. “Hoje, temos o aumento da população, uma crise que aumentou o desemprego e um mercado imobiliário inacessível. O Minha Casa Minha Vida conseguiu avançar, mas não foi suficiente. O número de famílias que não conseguem custear o aluguel ou o pagamento das parcelas de seu imóvel popular aumentou”, conclui. Requalificação Para o professor de arquitetura e urbanismo Luiz Alberto de Campo Gouveia, da Universidade de Brasília (UnB), a falta de moradia não é um problema novo. “A diferença entre a necessidade das pessoas em habitar e a capacidade de se fazer moradia sempre foi grande. O maior problema é a renda. Enquanto os salários não permitirem a compra de imóvel, isso vai continuar acontecendo”, pondera. O Ministério das Cidades destaca que, nos últimos nove anos, foram investidos R$ 4 bilhões em construção de moradias. “Foram contratadas 5,1 milhões de unidades habitacionais, sendo que já foram entregues 3,7 milhões até março deste ano”, destaca nota da pasta. Segundo o governo, o deficit de residências é usado como referência para a formulação de políticas públicas e estudos na área habitacional. FONTE: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/05/03/interna-brasil,678056/deficit-de-moradias-no-brasil-chega-a-6-3-milhoes-sp-tem-a-maior-defa.shtml

  • Bolsa Juiz x Bolsa Família: uma comparação que desnuda os dois Brasis

    "Neste artigo, um quadro que apresenta a comparação definitiva entre os programas do Bolsa Juiz (auxílio moradia + auxílio alimentação) e do Bolsa Família. Um retrato do comportamento das elites e do comportamento do povo; um exemplo concreto do tratamento que os ricos dispensam aos pobres no Brasil", escreve Mauro Lopes, editor do blog Caminho pra Casa, publicado por Outras Palavras, 05-02-2018. Eis o artigo. A diarista Selma Patrícia da Silva, de 42 anos, já foi beneficiária de programas de transferência de renda do governo, mas voluntariamente abriu mão depois que melhorou de vida. Selma diz ter recebido dinheiro do Auxílio Gás, do Bolsa Escola e do Bolsa Família na época em que ela e o marido faziam bicos como doméstica e pedreiro para sustentar os cinco filhos. Após construir a casa onde vive, em Formosa (GO), a diarista decidiu devolver o cartão, em 2013. “Pensei assim: da mesma forma que serviu para os meus filhos, vai ajudar outras pessoas. Acho muita covardia a pessoa não necessitar e ficar recebendo”, relembra Selma. O juiz Marcelo Bretas tomou um caminho oposto ao de Selma. Ele tornou-se uma “celebridade” há cerca de um ano por suas sentenças duríssimas na Lava Jato, pelas citações bíblicas nas mesmas sentenças, pelo gosto pelas redes sociais e por se apresentar como paladino da moralidade. No entanto, apesar de ele a e mulher, Simone Bretas, também juíza, receberem mais de R$ 60 mil reais mensais, foram à Justiça para “exigir o direito” de ambos receberem o auxílio moradia no valor de R$ 8.754,00 mensais, apesar de morarem terem apartamento próprio no Rio de Janeiro, onde moram. Bretas defendeu seu “direito” e o da mulher à mamata num tuíte (veja foto abaixo), apesar de resolução do Conselho Nacional de Justiça haver regulamentado o assunto em 2014 e vetado o auxílio moradia para juízes que têm residência na cidade onde trabalham. Não só brigaram para receber como ainda entraram numa queda de braço com Bradesco para reajustar o aluguel de um de seus imóveis próprios no Rio de R$ 10.685,80 para R$ 20 mil. Isso e ainda contar os R$ 907,00 que o casal juiz/juíza recebem como auxílio alimentação – o que cada um se apossa só em auxílio alimentação já é bem superior ao teto do benefício do Bolsa Família. Somados, os dois benefícios compõem o Bolsa Juiz do casal: R$ 9.661,00 mensais.São duas maneiras de enxergar o Brasil, a relação com as pessoas e o Estado. Selma entendeu que os recursos do Estado são finitos e que o benefício que ela abriu mão de receber pode ajudar outra pessoas em condição pior que a dela –não por ter ficado rica, apenas por ter ficado menos pobre. Bretas e sua mulher são insaciáveis. Esfolam o Estado como os demais ricos do país. Para eles, os recursos públicos são um espólio de guerra –da guerra contra pobres- sobre o qual avançam com um apetite sem fim. O casal Bretas arranca mensalmente pelo menos R$ 80 mil do Estado direta ou indiretamente. Mas não basta –nunca basta. (Foto: Outras palavras) O caso de Selma e do casal Bretas é um exemplo do abismo que separa ricos e os pobres no Brasil –e o dinheiro sequer é a maior distância entre eles. A elite brasileira não faz a menor ideia do que significam solidariedade ou compaixão, substantivos muito concretos no cotidiano duro dos mais pobres, que tecem frágeis redes de apoio entre si. Bretas, Moro, os três desembargadores do TRF4 que condenaram Lula em 24 de janeiro com frases tonitruantes em seus votos, todos eles têm imóveis de alto valor nas cidades em que moram e trabalham –e todos recebem o Bolsa Juiz. Os exemplos não param: um desembargador de São Paulo, José Antonio de Paula Santos Neto, do Tribunal de Justiça, tem 60 imóveis registrados em seu nome na Prefeitura da cidade –mesmo assim açambarca mensalmente o Bolsa Juiz (auxílio moradia + auxílio alimentação).O abismo entre a elite do país e os milhões e milhões de pobres tem o tamanho da distância que separa o Bolsa Juiz do Bolsa Família. Tudo o que neste artigo está exemplificado nos casos de Selma, do casal Bretas, de Moro, dos desembargadores do TRF4 e do desembargador dos 60 imóveis é a personificação dos programas Bolsa Juiz e Bolsa Família. (Foto: Outras palavras) Veja o quadro abaixo e constate as diferenças brutais entre um e outro. Por trás do Bolsa Juiz está a defesa dos empréstimos subsidiados que os empresários colhem nos bancos públicos, o dinheiro sem conta que deixam de recolher porque impõem uma estrutura tributária que massacra os pobres enquanto isenta-os de todos os lados, os trilhões de dinheiro do povo dos quais apoderam-se há anos, recebendo os juros da dívida pública. Olhando o Bolsa Família é possível sentir o sofrimento, a vida dura, a pobreza do povo brasileiro –mas, igualmente, sua dignidade. Veja o quadro/tabela –nele, um resumo dos dois Brasis que convivem e guerreiam no cotidiano do Brasil: (Foto: Outras palavras) FONTE: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/575872-bolsa-juiz-x-bolsa-familia-uma-comparacao-que-desnuda-os-dois-brasis

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