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  • O Grito Profético das Marias

    O encarceramento em massa é utilizado como política de segurança pública em vários países do mundo. O grande crescimento do número de pessoas privadas de liberdade e a ineficiência dessa estratégia, revelada pelos altos índices de violência, demonstra que essa questão precisa de um olhar mais atencioso e de outras alternativas - e não cárcere. Entre os anos de 2000 a 2016 houve um crescimento da população carcerária feminina de mais de 500%. Buscar desvelar a realidade do encarceramento feminino perpassa por muitas indagações. Porque essas mulheres estão privadas de liberdade? Quais as particularidades que atravessam o aprisionamento feminino, o gênero feminino? Quem são essas mulheres? O presente trabalho escutou mulheres de vários lugares do Brasil que vivenciou o cárcere e convida a Igreja e a sociedade a aprender a caminhar com essas mulheres que continuam vivendo esta situação absurda no pós-cárcere numa dimensão de poder: poder sobreviver com projetos de vida que as reconectem com elas mesmas na busca de mais dignidade, menos castigo e da liberdade. O cuidado com a vida ameaçada nos impulsiona a denunciar a fragilidade das Leis que também estão aprisionadas em (pré) conceitos que não diferencia justiça de vingança. É um chamado para aprendermos a pensar, escrever e agir livres dos cárceres e desafia a todos os homens e mulheres de boa vontade a experienciar o amor que transforma e liberta. Por Rosilda Ribeiro Rodrigues Salomão Clique aqui e acesse o PDF.

  • AVALANCHE DE EVENTOS E IMAGENS EXPRESSAM O GRITO DOS EXCLUÍDOS E EXCLUÍDAS 2023

    O título nada tem de exagerado ou pretensioso. Basta passar os olhos pelas telas e telinhas das redes sociais ou pelas notícias dos meios de comunicação – em especial a mídia local – para dar-se conta dessa verdadeira avalanche. Nos últimos anos, aliás, o Grito dos Excluídos e Excluídas vem ampliando seu raio de ação. Se em suas primeiras edições a iniciativa estava mais concentrada nas capitais dos estados, atualmente ela atinge um número cada vez mais expressivo de cidades médias e mesmo pequenas. Percorrendo semelhantes eventos, com suas respectivas imagens, cabem algumas observações para os debates e reflexões do chamado pós-Grito. Evitaremos citar exemplos para não correr o risco de sermos injustos com todas as pessoas que contribuíram para a construção desta iniciativa, hoje marca registrada da Semana da Pátria e do 7 de setembro. 1. Você tem fome e sede de quê? Já sabemos que o tema se repete todos os anos: Vida em primeiro lugar! Entretanto, o lema deste ano, em sintonia com a Campanha da Fraternidade, ajudou a abrir um duplo leque de debates. De um lado, traz à tona a fome de pão de milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. A renda não alcança para o arroz e o feijão, a cebola e o tomate, a fruta e os legumes, a batata e o ovo, o aluguel e o material escolar, a roupa e o calçado, os gastos com água, luz e gás!... Literalmente, em muitas casas e pelas ruas não há o que comer. Por outro lado, o lema faz emergir a sede de justiça de outros tantos trabalhadores e trabalhadoras, como também de milhares de agentes e lideranças dos movimentos e pastorais sociais, da academia e do sindicato, das entidades e organizações não governamentais, enfim, de todos, todas e todes que sonham, buscam e lutam por uma sociedade justa e solidária. As vozes se fizeram ouvir no grito uníssono. Infelizmente, as forças de repressão deram as caras em alguns eventos, mas não a ponto de impedir o direito de se manifestar. 2. Resgate do Dia Nacional da Independência Depois do funesto furacão dos anos anteriores, quando o dia 7 de setembro, junto com as cores da bandeira nacional, foi confiscado e manipulado pelos golpistas, e transformado numa data de ódio e violência – voltamos a respirar com alívio. Passado o medo e o perigo, as pessoas puderam sair às ruas e praças para celebrar o Dia da Pátria através do binômio festa e luta. Festa, claro, porque o Brasil tem o que comemorar, seja no sentido de ter resgatado ordem democrática, seja na conquista e defesa dos direitos humanos, em particular dos pobres, excluídos e vulneráveis. Mas também luta, uma vez que não basta eleger nossos representantes e cruzar os braços. O ato de depositar o voto nas urnas é importante, mas insuficiente. Para mudanças estruturais, é preciso ocupar as ruas, praças e campos. Foi o que se viu neste 7 de setembro: os gestos e imagens se repetiram e se multiplicaram por todo país. Independência representa, antes de tudo, a liberdade de descer das arquibancadas, entrar em campo e se manifestar. Continua o empenho por “terra, teto e trabalho”, como portas que descortinam outras portas em vista de uma cidadania sem fronteiras. 3. Grito múltiplo, plural e colorido De ponta a ponta do país as manifestações se fizeram presentes. No conjunto, pudemos notar uma mobilização múltipla, plural e colorida. Colorida, sem dúvida, porque as cores, da mesma forma que o céu, o ar, as notas musicais e as palavras, não têm dono. Jamais poderão ser apropriadas por grupos truculentos e minoritários. Pertencem a toda população. Vem à lembrança a universalidade do arco-íris e a canção Aquarela do Brasil. Também plural, pois não pode haver restrições ao saber ou saberes de pessoas e grupos. Direito de expressão, que não pode ser confundido com o direito de agressão. As diferenças, longe de nos empobrecer, sempre nos enriquecem. E ainda múltipla, na medida em que se fez sentir em todos os estados e em centenas de municípios, sem falar da grande caminhada, romaria e celebração de Aparecida/SP. Mas igualmente múltipla em sua linguagem: gestos, símbolos, marchas, atos públicos, teatro, poesia, música, dança, cartazes, faixas – tudo isso revestido pela palavra livre e aberta ao diálogo de escuta e troca de valores. 4. Consciência de um novo patriotismo Outra observação é que o Grito dos Excluídos e Excluídas vem ocupando sempre mais todas as horas do dia 7 de setembro. Pela manhã e pela tarde, foi possível acompanhar os atos, eventos, celebrações, entre outras formas de mobilização. Por várias cidades, os migrantes haitianos e venezuelanos, como também de países vizinhos, se fizeram presentes. Em numerosos lugares, o Grito se deslocou até a periferia, os assentamentos e acampamentos, as regiões mais longínquas. Vale assinalar, ainda, a presença de bispos, padres, religiosos e religiosas – numa prova de que boa parte da Igreja comunga e defende a população carente e vulnerável. Embora em menor número, as autoridades marcaram presença em lugares onde é maior a sensibilidade com os excluídos. Não obstante o contingente de participantes tenha diminuído em algumas cidades, aumenta em contrapartida, como já vimos, o número de iniciativas e de manifestações. Não podemos deixar de sublinhar a criatividade de vários eventos, conferindo maior riqueza e participação à população como um todo. 5. Tragédias e esperanças Convém concluir estas observações com um alerta para algumas tragédias, entre tantas outras, que mancharam negativamente a história recente do país. Em primeiro lugar, a morte por abandono e falta de alimento e atendimento médico do povo Yanomami, verdadeiro crime contra a humanidade. Depois. O aumento progressivo do povo em situação de rua – desempregados, subempregados e “descartáveis” – com destaque para a cracolândia, uma chaga aberta no coração da metrópole mais rica da nação. Vem em seguida a trajetória diária dos migrantes, das mulheres e crianças, uns sem perspectiva de encontrar o solo pátrio, outras com a violência a bater-lhes diariamente o calcanhar. Por fim, as inundações na região sul do país, que já contabilizam quatro dezenas de vítimas fatais e milhares de desabrigados. Catástrofe que vem se repetindo e que nada tem de natural. Hoje sabemos o quanto a devastação do meio ambiente, por parte da cobiça e ambição do lucro e do capital, pode levar a calamidades extremas de estiagens e tempestades. Gritos silenciosos, com imagens que clamam por mudanças urgentes e profundas no convívio do bem-viver com todas as formas de vida (biodiversidade) e no cuidado com “nossa casa comum”. Felizmente, o clima, a atmosfera e as vibrações do 29º Grito foram revestidos de um novo respiro. Resta ainda um longo caminho a ser percorrido, mas já vislumbramos um novo olhar de atenção para com a população empobrecida. A esperança venceu novamente o medo e a ameaça de nazifascismo, negacionismo e autoritarismo, mas precisa vencer os entraves, impasses e os nós que, histórica e estruturalmente, se arrastam pela trajetória desta terra de Santa Cruz. A vitória só será possível quando os gritos ocultos, silenciados, invisíveis e abafados saírem do chão, levantarem a cabeça e formarem o grande Grito dos Excluídos e Excluídas, em vista de transformações estruturais de ordem socioeconômica e político-cultural. Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs São Paulo - SP, 08 de setembro de 2023

  • 29º Grito dos Excluídos e das Excluídas: gritos e princípios

    Há 29 anos o Grito dos Excluídos e das Excluídas vem mudando o rosto do dia 7 de setembro no Brasil. O dia da pátria! Dia da Independência! A data não é mais exclusiva para desfiles cívico-militares, com alegorias à força do “Grito do Ipiranga”, de 7 de setembro de 1822. A articulação “Grito dos Excluídos e das Excluídas”, por organizações sociais da Igreja e dos movimentos populares, não se restringe ao dia da pátria, mas se estende por todo o ano com formações, articulações, reuniões, eventos culturais e audiovisuais. Com o tema permanente, “Vida em Primeiro Lugar”, o 29º Grito, traz o lema “Você tem fome e sede de quê? ”. Uma conexão com o tema da Campanha da Fraternidade da Igreja Católica, mas também com a realidade que mais grita no Brasil nos últimos quatro anos: a fome. E esta se multiplica por vários fatores. Não apenas a fome de comida, mas de direitos básicos. 5 eixos gritantes O grito das políticas públicas Não há dúvidas que as políticas públicas que corroboram a superação da fome sofreram muitos cortes de recursos com os governos Temer, Bolsonaro e o congresso nacional que tem legislado na última década. O projeto neoliberal avançou para ultraliberal. Em outras palavras, restrição de políticas públicas e redução do Estado. Foram sucessões de atos como terceirização irrestrita, reforma trabalhista, reforma da previdência, teto dos gastos, privatizações, priorização da dívida frente às políticas públicas de educação, saúde, assistência social. O grito da Democracia e da Soberania A frágil democracia de 35 anos (desde 1988), já passou por várias emendas e alternâncias de grupos no poder. E nos últimos dez anos também vem sofrendo ataques que chegou ao seu ápice no 8 de janeiro de 2023. Um episódio ainda com muitas nuanças, que a CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro já está explicando. A justiça está desvendando outros aspectos. O fato é que há que se gritar e defender o sistema democrático. Democracia não é apenas a escolha de governo, mas construir uma cultura democrática. Toda a sociedade deve se tornar democrática. O grito contra as violências estruturais A escravidão durou “oficialmente” 340 anos. Mas, seu legado ainda persiste até hoje na sociedade. A marca do racismo estrutural, que para uma parte da população é “culturalmente aceitável”, segue determinando quem fica desempregado, quem sobrevive em situação de rua, quem mora nas periferias, nas ocupações, quem prevalece como maioria nas prisões e nos índices de vítimas de assassinatos. Lado a lado com esse legado, grita-se também contra o machismo e o patriarcado que dissemina um acultura de morte. O grito dos Povos Originários Não há como deixa de gritar contra o marco temporal das terras dos povos indígenas. O caderno de conflitos da CPT aponta que 2022 os primeiros alvos da violência foram os povos indígenas. O relatório de violência contra essa população em 2022, organizado e lançado em 2023, pelo Conselho Indigenista Missionário – Cimi, aponta que entre 2019 e 2022 foram registrados 795 assassinatos de indígenas. Morreram também 3.552 crianças indígenas, de 0 a 4 anos de idade. O assassinato de mãe Bernadete, do quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, BA, é um retrato da perseguição que as comunidades quilombolas sofrem por aqueles que disputam seus territórios. Grito contra as desigualdades, economia que mata e a injustiça social A fome é o resultado de uma economia concentrada nas mãos de uma minoria numérica que se conta facilmente nos dedos das mãos. A restrição de direitos, redução de investimento e má gestão das políticas públicas oferecidas empurram os pobres para o vale da fome, insegurança alimentar e das péssimas qualidades de vida. O problema das taxas de juros elevadas segue sugando o dinheiro dos pobres para enriquecer os bancos. Há que gritar, em alto e bom som, pela redução das taxas de juros, pela taxação das grandes fortunas e pela reparação da dívida pública. Princípios de um grito profético O Grito dos Excluídos e das Excluídas é carregado de anúncios e princípios. A solidariedade é a retaguarda da vida entre os pobres. Um elo que fortalece e transforma os gritos em serviço. São mutirões para superar a fome, o desemprego, a má qualidade na educação, a ausência de moradia, a miséria. São inúmeras cestas básicas, cursos profissionalizantes, projetos educacionais de “reforço” educacional, cozinhas solidárias, marmitas solidárias, entre outros tantos grupos solidários diante de tantos sofrimentos. Organização e unidade. O Grito tem sido um dos poucos momentos no Brasil que reúne uma convergência de forças sociais, sobretudo entre pastorais de Igrejas e movimentos populares. Isso é fundamental da articulação do Grito. Esse princípio deve ser fortalecido em busca de uma unidade nas lutas convergentes: fortalecimento de classe e questões estruturais. Um dos princípios fundamentais do Grito (e de qualquer atividade de articulação social em torno dos problemas reais do povo) é a formação na ação. Nesse espaço de convergência a gente aprende a lidar com muitas questões na área cognitiva da luta: leitura da realidade, trabalho em equipe (democrático), priorização de pautas, exercício de liderança, diálogo institucional, trabalho de base, educação popular. O Grito é uma corrente de criatividades. Desde a preparação com rodas de conversas (virtuais e presenciais), sarau cultural, plenárias populares, manifestações de ruas, praças, comunidades, programas de rádio, TVs, vídeos, faixas, cartazes, bandeiras, teatros, dentre outras tantas formas de expressar o grito do povo. Este ano, 2023, é o primeiro Grito durante um governo progressista, após seis anos de aniquilamento das políticas públicas. Portanto, um grito pela reconstrução do Brasil, que priorize todos os brasileiros e brasileiras, na sua diversidade e especificidade. Esse exercício da articulação do Grito deve ser um ensaio de muitas lutas (pressão) que as forças populares devem manter solidária, organizada e unida na defesa da democracia, dos povos, dos direitos e da ecologia integral. Por: Jardel Neves Lopes - Campanha contra a Violência no Campo; Assessoria de Incidência Política Compartilhada; Pastoral Operária

  • Fome de direitos e sede de justiça: coletiva de Imprensa do 29º Grito dos Excluídos e Excluídas

    Aconteceu no dia 04/09 (segunda-feira) de setembro de 2023, às 10h, de forma remota, a Coletiva Nacional de Imprensa do 29º Grito dos Excluídos e Excluídas. Esta atividade foi transmitida no formato online pela página oficial do Grito no Facebook e pelo canal do Youtube e entidades parceiras. Com o intuito de oferecer aos jornalistas uma reflexão mais aprofundada sobre os objetivos do Grito esta Coletiva de Imprensa contou com a mediação de Daiane Höhn, integrante nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da Coordenação Nacional do Grito dos Excluídos e Excluídas. O lema do Grito para este ano é “Você tem fome e sede de quê? ”. A escolha deste lema proporciona um diálogo com o tema da Campanha da Fraternidade de 2023, que é “Fraternidade e Fome”, organizada pela Conferência Nacional dos Bispos (CNBB). “O Brasil voltou ao mapa da fome, por isso, torna-se urgente debater este tema e fazer com que o Grito seja uma convocação permanente, que cause transformação nesta sociedade tão injusta”, afirmou Daiane. Foram convidados para esta Coletiva: Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo/MA e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sociotransformadora da CNBB; Leila Denise, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), coordenação Rondônia e Via Campesina; Rosilene de Jesus Santos, conhecida como Negah Rosi, raizeira e educadora, fundadora da União dos Atingidos em São Sebastião, Litoral Norte/SP; e também, José Vanilson Torres da Silva, do Movimento Nacional População de Rua-MNPR no Rio Grande do Norte/Nordeste e coordenação nacional; Conselheiro Nacional de Saúde pelo MNPR; Conselheiro Estadual de Assistência Social pelo MNPR; Conselheiro Municipal de Assistência Social de Natal-CMAS pelo Fórum em Defesa da População em Situação de Rua de Natal-FDPRN. Alimentar a Esperança O Grito dos Excluídos e Excluídas dá lugar as vozes e as lutas das pessoas empobrecidas, invisibilizadas e silenciadas em nosso país. Os gritos são por mudanças estruturais e por políticas públicas; por uma vida digna, por trabalhos justos, por cultura e lazer. É diante desta infinidade de gritos que ecoam por mudanças na conjuntura política, social e econômica que as lutas cotidianas dos movimentos sociais se torna única: A Vida em Primeiro Lugar! “É gritante e desafiante o tema da fome, principalmente quando existem mais de 33 milhões de pessoas passando fome e mais de 100 milhões sofrendo alguma necessidade”, afirma Dom Valdeci ao explicar a importância da mobilização do Grito em todas as regiões do Brasil para que de fato os gritos abafados possam ecoar e ser ouvidos na sociedade e assim lutar por um país mais justo e fraterno. Dom Valdeci falou sobre os três degraus do exercício da caridade. O primeiro tem a ver com o dar alimento a quem tem fome; o segundo diz respeito a promoção da vida: dar trabalho a quem está desempregado ou criar projetos que ajudem os jovens na sua formação para que não se tornem massa de manobra da sociedade; e o terceiro acontece quando se luta por uma sociedade justa e quando toda transformação se concretiza na implementação de políticas públicas. É por este motivo que o Grito dos Excluídos e Excluídas também está em sintonia com a 6ª Semana Social Brasileira que tem como tema: “Mutirão pela Vida por Terra, Teto e Trabalho”. Para Dom Valdeci todas estas iniciativas estão a serviço da vida e daqueles que não têm vida digna: “Somos então convocados a juntos realizarmos esta construção de um projeto popular que venha corresponder aos anseios de todos os excluídos e excluídas de nossa sociedade”, afirmou. Por fim, Dom Valdeci destacou que o objetivo geral do Grito é alimentar a esperança. Anunciar a esperança de um mundo melhor, sociedade mais justa e mais fraterna. É por este motivo que os movimentos populares são de suma importância por estarem solidários para ouvir a voz daqueles que gritam por vida em primeiro lugar. Temos fome de Justiça e Moradia Rosilene de Jesus Santos se fez presente nesta Coletiva trazendo o grito testemunhal vivenciado pelos moradores da Vila Sahy em São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Trata-se dos deslizamentos de terra provocados por um temporal no dia 19 de fevereiro e que causaram 65 mortes e destruição na região. Negah Rosi, como é conhecida na comunidade, afirmou que os moradores se organizaram e fundaram a União dos Atingidos em São Sebastião com o objetivo de lutar por justiça diante do descaso do poder público. “Muitas famílias continuam em áreas de risco, muitas mães solos não estão conseguindo trabalhar e nem conseguem emprego, estão doentes. A luta é por moradia digna porque os moradores tiveram que deixar as suas casas para ir morar em prédios. É muito difícil esta nova realidade”, enfatizou. A dor maior da comunidade está no fato de que entres os 65 mortos estão muitos adolescentes e pessoas idosas. Deste modo, o grito é por não terem sido ouvidos em momento algum. Até este momento não aconteceu nenhuma assembleia pública e constantemente encontram as portas fechadas da prefeitura. Quando fazem alguma mobilização são chamados de baderneiros. “Temos que suportar as falas preconceituosas de pessoas que nos chamam de preguiçosos, sendo que a maioria são mulheres e trabalham como empregada doméstica, por isso, temos fome de justiça e moradia”, relatou Rosilene. Metade da População Brasileira passa Fome Outro momento marcante nesta Coletiva foi a participação da Leila Denise, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Ela enfatizou que a fome que está ecoando muito forte atualmente é a do respeito: pelas crianças, pela diversidade étnica, sexual, social, gênero, cultural, terra e trabalho, justiça social, direitos, educação, cultura, territórios livres e pela soberania alimentar. Para Leila, a nossa sociedade está fixada fortemente em três pilares que impedem que as nossas sedes e fomes sejam saciadas: o patriarcado, o racismo e o capitalismo, entendido como modo de organização da sociedade onde existe a concentração da riqueza nas mãos de poucos, principalmente com este modelo perverso de imperialismo que instiga o ódio e o repúdio ao diferente, fator determinante para o crescimento dos grupos neofascistas no nosso país. Este projeto de sociedade defende a ganância e a morte, principalmente daqueles que não têm acesso e nem garantia do seu sustento. Basta ver o exemplo dos proprietários de terras com mais de 500 hectares, são todos homens e brancos, ou seja, estes pilares fortalecem historicamente a concentração de riqueza e, automaticamente, desapropriam as pessoas que estão em seus territórios. A exploração do ser humano e da terra não tem outra consequência senão a fome, a miséria e a morte. A pesquisa desenvolvida pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) revela que em 2022 metade da população brasileira passa fome e, consequentemente, falta água potável de qualidade. Leila enfatiza que a proposta da Via Campesina ao defender o pilar da soberania alimentar é que devemos ter acesso ao alimento nutritivo e saudável, culturalmente adaptado e respeitando a espiritualidade do território. “As pessoas precisam ter acesso a estes alimentos, produzidos com sustentabilidade, recuperando a qualidade da terra e da água e do ar, não se pode degradar. Precisamos investir em sistemas produtivos com tecnologias e ciências que deem autonomia para quem produz”, comentou. Sede de Justiça e Fome de Direitos Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revelam que a população em situação de rua supera mais 281 mil pessoas no Brasil. Quem apresentou estes dados para a Coletiva foi José Vanilson Torres da Silva, integrante da coordenação do Movimento Nacional População de Rua (MNPR). Alertou também que estes dados são subnotificados porque o IPEA contabilizou apenas as pessoas que cadastradas no CadÚnico e muitos moradores de rua não tem acesso a este sistema de cadastro. Informou ainda que há um aumento exponencial de pessoas e de famílias vindas para a situação de rua. Vanilson complementou dizendo que em 2020 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não contabilizou a população de rua tornando difícil a visibilidade da PopRua. Para ele trata-se de uma estratégia porque se não é conhecido não se faz políticas públicas. Urge a implementação de políticas públicas nos governos municipal, estadual e federal que sejam garantidoras não só da questão da segurança alimentar, mas em todas as áreas. Mesmo com tantas lutas para a construção destes planos ainda acontecem despejos, roubos e todas as violências institucionais contra o povo de rua. “Combater a fome para quem está em situação de rua é um direito constitucional, mas até agora este direito não saiu do papel”, afirmou. Como enfrentar a fome e sede? A realização desta Coletiva de Imprensa trouxe elementos fundamentais para compreender de que fome e de que sede estamos gritando e principalmente como enfrentar e combater esta ausência de vida digna. Dom Valdeci destacou que os gritos já ecoados desde o início do ano em tantos territórios brasileiros devem fortalecer a Reforma Agrária Popular como garantia de que todos tenham renda e não fiquem na dependência; que os territórios indígenas e as comunidades tradicionais sejam demarcados para que eles possam produzir; que também sirvam de apoio as experiências de produção nas periferias e a importância da pastoral da moradia e da autonomia das favelas e, por fim, fortaleça os projetos populares a partir do bem-viver, valorizando as experiências dos povos que são capazes de produzir sem agredir a natureza. Leila também contribuiu com esta reflexão dizendo que além da falta do que comer devemos superar a ingestão de alimentos ou produtos que são considerados alimentícios, padronizados e que não nos nutrem, não nos deixam com saúde. São alimentos que geram doenças. É um conglomerado de oito empresas que controlam o mercado e a produção e que, diante da pobreza e da falta de recurso, somos levados a também comer muito mal. Daiane encerrou a Coletiva de Imprensa dizendo que nestes 29 anos de existência o Grito dos Excluídos e Excluídas acontece de forma dinâmica em todo o país. É um processo de reflexão que dura o ano inteiro, mas foi só a partir de 2020 que se criou o Dia “D” do Grito. Ele sempre acontece no dia 7 de cada mês e é a oportunidade de aprofundar as pautas populares e as reinvindicações presentes no lema escolhido para cada ano. Todas estas atividades servem para fortalecer o Grito do dia 7 de setembro. Ela agradeceu a participação dos convidados e convidadas, de todos e todas que estavam acompanhando esta Coletiva de Imprensa pelas redes sociais do Grito e convidou para que neste dia 7 de setembro estejamos presentes nos atos públicos, nas caminhadas e nas mobilizações populares. Como forma de chamar a atenção para as transformações que o país precisa e para que de fato aconteça a “Independência” como garantia de vida digna para todas as pessoas, com justiça social, acesso aos direitos fundamentais, ao equilíbrio econômico, ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Por: Frei Zeca - articulador do Grito em Poconé/MT

  • MAPA DO GRITO: PROGRAMAÇÕES EM TODO O BRASIL

    REGIÃO NORTE ACRE Rio Branco - 2/9 – 15h00 – Pré-Grito (confecção de cartazes), na ADUFAC; - 3/9 – 15h00 – Pré-Grito (confecção de cartazes), na ADUFAC; 5/9 – 7h00 – Panfletagem, na Praça da Revolução; 5/9 – 8h00 – Lançamento do Caderno da CPT “Conflitos no Campo Brasil 2022, no Instituto São José. 7/9 – 7h00, na Catedral – Grito Pela defesa do SUS; de uma educação pública de qualidade; de habitação popular; de terra para a agricultura familiar; da demarcação das terras indígenas e quilombolas; de uma segurança pública que respeite e assegure a dignidade da vida; de trabalho e salário dignos a toda população; de transporte eficiente e de qualidade, de lazer e cultura... AMAPÁ Macapá – 1/9 – 15h00 – Pré Grito - Roda de Conversa – auditório da UNIFAP; 7/9 – 07h30 – Missa presidida pelo bispo Dom Pedro Conti; Café, Ato, com saída em frente da Seju, caminhada pela orla da cidade até a concha acústica do Araxá. AMAZONAS Manaus (Arquidiocese) – 31/08 – Coletiva de Imprensa; 7/9 – 15h00 – concentração no Centro Estadual de Convivência da Família Pedro Vignola, – Cidade Nova; 16h00 – missa amazônica; 17h00 caminhada até Memorial do Cruzeiro, Cidade Nova II. Atalaia do Norte – 16/09, grito do Alto Solimões. PARÁ Belém – 7/9 – 8h00 – concentração em frente a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré; caminhada pelas avenidas Nazaré, Magalhães Barata e Almirante Barroso até a Praça do Operário, em São Brás, com participação de outras cidades e municípios do Estado. Salvaterra - 7/9 - Comunidades de Rosário, Mangabal e Baiano. Tucumã/Alto Xingu – 2/9 – Roda de Conversa – 13h00 – Pavilhão Igreja N S Aparecida; 5/9 – 19h30 – Celebração ecumênica no Pavilhão da Igreja Nossa Senhora Aparecida, com partilha de lanches Marajó – A população de Cachoeira do Arari, está em mobilização permanente por moradia, luta com o Arrozal que joga veneno na população e quer lotear parte da área envolvida. RORAIMA Boa Vista – 7/9 – 16h30 – concentração (Av. Bento Brasil com Rua Pariam - na Igreja Coima - Coração Imaculado de Maria; sairão em caminhada Parada final na Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo – Rua Floriano Peixoto. Por Terra, Teto, Trabalho, Campo, Águas e Florestas, Povos e culturas; Campanha solidária com coleta de arroz, feijão, café e açúcar para ajudar as famílias das comunidades indígenas do Alto São Marcos, vítimas da forte chuva. RONDÔNIA Porto Velho – 2/9 – 16h00 - Sarau cultural junto à Oficina de confecção de materiais para o Grito, na Praça do COHAB, Rua São Miguel 1396, zona sul; 4/9 – 17h00 - Coletiva de Imprensa e Seminário, na Cúria Arquidiocesana, com Dom Roque Paloschi, Presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e Arcebispo de Porto Velho, representantes dos territórios de luta e dos movimentos populares, com o tema “Moradia Digna, Saneamento Básico e Soberania Alimentar”, reunindo as discussões trazidas pelas 4 rodas de conversa realizadas ao longo do ano; 5/9 – 19h00 - Celebração Inter-religiosa no Terreiro da Mãe Nilda; 7/9 – 15h00 – concentração no CPA – Centro Político Administrativo - Av. Farguar, 2986, Chegada na Praça Marechal Rondon/do Baú, Avenida sete de setembro com Avenida Rogério Weber. Candeias do Jamari – 29/08, as 19h, roda de conversa na comunidade São Francisco. TOCANTINS Palmas - 7/9 - Ato com pastorais sociais e movimentos; Entrada no desfile cívico militar, logo após a última tropa. REGIÃO NORDESTEEGIÃO NORDESTE ALAGOAS Maceió – 7/9 – 9h00 – concentração na Praça Sinimbu, centro; Caminhada logo após o desfile cívico. União dos Palmares - 7/9 - Praça em frente à capela de São Francisco de Assis. BAHIA Salvador – 01/9 – 13h30 – VII Gritinho dos Excluídos – no salão paroquial Nossa Senhora da Conceição/Periperi; com apresentações de capoeira e violação com as crianças e adolescentes dos Centros Comunitários do Subúrbio Ferroviário, e volta em torno da Praça da Revolução; atividade realizada pela Pastoral do Menor Arquidiocesana, 6/9 – 9h00 Gritinho Dos Excluídos e Excluídas – concentração em frente ao Núcleo Dom Lucas Moreira Neves; Caminhada até ACOPAMEC – Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão, com apresentações de capoeira e violão; 7/9 – 8h30 – no Campo Grande. Dias D´Avila – 7/9 – 9h00 – Av. Imbassay, 294, em frente a casa do Professor Welito – Por Margarida Maria Alves e por todas e todos que perderam a vida lutando contra a exclusão. Guanambi – 6/9 – 18h30 – Bairro Alto Caiçara. Itaete – 7/9 – 14h - Grito no clube das mães, abertura do II Intercambio de Agroecologia e Soberania Popular da Chapada Diamantina, 16h saída cortejo pelas ruas da cidade. Itanagra –31/08 – Oficina com as crianças; 7/9 – Assentamento Novo Horizonte, no espaço da Capela Sano Antônio – 8h30 às 12 h00, com Feira de Economia Solidária e debates sobre agricultura familiar; 11h00 – Missa. Envolve a região de Vitória da Conquista. Jacobina - Juazeiro – 7/9 Rui Barbosa – 7/9 Santo Sé – 1/9 – das 8h30 às 11h00 – Grito em solidariedade às comunidades que vêm sofrendo com os impactos da mineração. Manifestações na entrada principal do município; Caminhada pelas imediações do Posto Riacho em direção à praça principal. Ato público, com falas, nas proximidades da Igreja Matriz de São José. Senhor do Bonfim – 7/9 – 9h00 – concentração ao lado da Igreja Nossa Senhora de Fátima, Bairro Alto da Maravilha, abertura com roda de conversa e depois caminhada no bairro. Vitória da Conquista – 7/9 – 8h00, no Gripário – entre a Regis Pacheco e Rio Bahia. CEARÁ Fortaleza – 7/9 – às 8h30 – concentração Avenida Jornalista Tomaz Coelho, 2050, Praça Antonio Correia; Caminhada pelas ruas do bairro até à Praça da Igreja Matriz de Messejana, em Fortaleza.Além de trazer todos os gritos de grupos e pessoas com quem as pastorais sociais, CEBS e organismos da Arquidiocese de Fortaleza e movimento populares e sociais trabalham, o Grito quer denunciar todos os tipos de violências contra as juventudes das periferias, as mulheres e homens trabalhadoras e trabalhadores, especialmente a luta das mães do Curió, cujos filhos foram assassinados na Chacina em novembro de 2015. Crato – 7/9 – 8h00 – Concentração Praça São Vicente; Café da manhã partilhado. Crateús - 6/9 - 7h30 - Mística de abertura; 8h00 - Concentração na Igreja São Francisco e caminhada. Diocese de Iguatu – 9/9 – 7h30 – Concentração Praça dos Redentoristas no Prado. Limoeiro do Norte-Jaguaruana – 7/9 – 6h00 – concentração Capela do Tabuleiro. Tauá – 8/9 – 17h30 – Anfiteatro do Parque da Cidade. Paróquia Nossa Senhora do Rosário, Comitê Popular de Luta de Tauá, Levante Popular da Juventude e Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares. MARANHÃO São Luís (Arquidiocese) – 5/9 – 15h00 – concentração na Praça Deodoro. Com a participação de pastorais e outros movimentos da Arquidiocese; Caminhada pela Rua Oswaldo Cruz, com várias falas; 9/9 - Missa na Paróquia Santa Clara, celebrada pelo arcebispo Dom Gilberto Pastana. Regional Nordeste V. Maranhão: Dia 05 e 06/9 - Ativismo digital nas redes sociais; 7/9 - ATO político realizado em vários municípios da região. Bacabal – em preparação. Barreirinhas –Rodas de Conversa nas comunidades, com a articulação do STTR, Colônia de Pescadores, Paróquia. Atividades do STTR e Colônia para fazer mobilização de lideranças. Tentamos incluir a temática do Grito na Celebração da Igreja Matriz, mas não conseguimos nos articular suficientemente. A pretensão é continuarmos nos mobilizando antes e depois do dia 07 de setembro. Brejo – 4/9 – 19h00 – Fórum em Defesa da Vida do Baixo Parnaíba Maranhense fará o Lançamento Virtual do 29° Grito, que será transmitido via YouTube no canal da Diocese de Brejo. Com Martha Bispo, secretaria da CNBB Regional NE V e Rosilene Wansetto, do JSB e Coordenação Nacional do Grito. Grito de Caxias - 9/09 - 18h00. Timon – 07/09 – as 7h00 - concentração na comunidade N. Sra. Aparecida, mutirão, sendo 1ª parada – Paróquia Menino Jesus de Praga, em frente à escola Ney Rodrigues e Horta do Mutirão – tema terra e meio ambiente; 2ª parada – Paróquia dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo – próximo ao mercantil do Povo na Av. Luís Firmino de Souza, tema: Trabalho e Moradia. 3ª parada – Paróquia São Francisco - próximo ao Hospital Regional Alarido Pacheco, tema: Educação e Saúde; 4ª parada – Paróquia Santo Antônio – próximo à Rua 16 na Avenida Luís Firmino, tema: transporte público; 5ª parada – Paróquia São José – Praça São Benedito, no Bairro São Benedito, tema: justiça e segurança pública (encerramento com apresentação feita pelos jovens). PARAÍBA João Pessoa – 4/9 – 17h00 - Plenária; 7/9 - 8h00 - Concentração Liceu Paraibano. Campina Grande – 7/9 – 9h00 - Praça Clementino Procópio. PERNAMBUCO Recife – 4/9 – 14h30 – Plenária Sede do MTC; 7/9 – 9h00 – concentração no Parque 13 de Maio, próximo à sede da Câmara de Vereadores e Faculdade de Direito, centro; 9h30 – Abertura e mística; Caminhada até Pátio do Carmo, bairro Santo Antônio; Encerramento com mística e ciranda. PIAUÍ Teresina – 5/9 – 10h - Coletiva Imprensa, no Auditório Alegis. 7/9 - Erradicação do feminicídio e punição aos agressores, erradicação do trabalho escravo, tarifa justa no transporte coletivo, até a tarifa zero, suficiente e de qualidade, moradia digna para sem tetos. Floriano - 04/09 – 19h00 - Câmara Municipal Apresentação da temática do Grito dos Excluídos, utilizando o dia de Comemoração Municipal do Terço dos Homens. Distribuição de panfletos informativos (sindicato); 05/09: Live Regional pela TV Nestante sobre o a temática do Grito; 7/09 - mobilização do Grito online; 09/10 – Reunião avaliação do Grito. Parnaíba (Diocese) - em preparação Picos - 6/9 – 7h00 - Missa de abertura na Igrejinha Sagrado Coração de Jesus 8h00 - Marcha (caminhada) até à Câmara Municipal; 9h00 - Audiência Pública na plenária da Câmara Municipal. RIO GRANDE DO NORTE Natal - 7/9 - 9h00 - Concentração Teatro Alberto Maranhão (TAM) em direção à Praia do Meio. Mossoró – 4/9 – as 16h, roda de conversa no CF8; 6/9 – às 10h – Pré Grito do IFRN; 7/9 – ato político – desfile cívico com confraternização no encerramento da ação. Paraná - 7/9 - 16h00 - Acolhida no Posto Paraná; 16h30 - Caminhada pela avenida principal com paradas e meditações, seguida de missa na praça pública. SERGIPE Aracaju – 3/9 – Live você tem fome e sede de que? Com Irenir Jesus e Romero Venâncio; 7/9 – 8h00 – concentração Praça Olímpio Campos, em frente à Catedral Metropolitana; 9h00 – Ato Interreligioso; em seguida caminhada até Av. Barão de Maruim, atrás do desfile cívico. EGIÃO CENTRO-OESTE REGIÃO CENTRO OESTE GOIÁS Goiânia (Arquidiocese) – 4/9 – 17h30 – Dialogando online/Fórum Goiano, Com a presença especial de Pe. Júlio Lancelotti, representantes de movimentos sociais e da Arquidiocese de Goiânia apresentam e denunciam a bruta realidade econômico-social do estado de Goiás; Crianças da Ocupação Paulo Freire gravam vídeo pelo Direito de Morar; 7/9. Concentração 8h30, próximo à ocupação Paulo Freire e Ocupação Solar Ville, com animação, música, palavras de ordem, intervenção das crianças do MTD, bloco de falas, performance Circo Lahetô; fala do bispo; plantio do Bosque da Vida dois ipês amarelos; 10h30 - Caminhada, parada na Ocupação Solar Ville, plantio de mais dois ipês amarelos, segue pelo bairro até à Ocupação Paulo Freira; 12h30 - Almoço coletivo. MATO GROSSO Cuiabá – 1º/9 – 7h30 – saída da sede do INCRA (CPA-Cuiabá) – Romaria da Terra e da Resistência Camponesa; 7/9 – 16h00 – Bairro Jardim União. Cáceres – Grito do Pantanal Rondonópolis – 7/9 – das 8h30 às 10h30 – Roda de Conversa, no Cepa da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga. MATO GROSSO DO SUL Campo Grande - 7/9 - 7h00 - Concentração Rua Barão do Rio Branco, com a 13 de Maio. Dourados – 7/9 – 8h – concentração em frente a Escola Abigail Borralho, entre a Rua Marcelino Pires com General Osorio, entrará no desfile oficial entre as 10h00 e 11h00. Comitê de Defesa Popular de Dourados com mais de 30 representações. REGIÃO SUDESTE IÃO SUDESTE ESPÍRITO SANTO Vitória – 7/9 – 8h00 – concentração na Praça do Portal da Ilha do Príncipe; Lavagem da escadaria do Palácio Anchieta, em protesto contra a fome, a desigualdade e a violência policial. Colatina – 7/9 – 8h30 – Concentração Praça do Sol; 9h00 – Carreata solidária até à Comunidade Maria Ortiz – Distrito de Baunilha; 10h00 – Celebração ecumênica, com ônibus e carona solidária e lanche partilhado. São Mateus – 7/9 – 14h00 – Sítio Histórico Porto de São Mateus, com arrecadação de roupas masculinas. MINAS GERAIS Belo Horizonte – 6/9 - 20h00 - Toque do Coletivo Alvorada online; 7/9 – Concentração na Praça Vaz de melo, próximo ao metrô da Lagoinha, às 10h - saída em Marcha Popular Fora Zema. Caxambu– 7/9 – 9h00 – Concentração Praça 16 de Setembro; Caminhada – 11h00 – até a Praça da Policlínica; Ato Movimento Artístico Cultural, com ensaio aberto da Zambanda e cortejo pelas ruas da cidade. Encerramento – 12h00 – pista de skate. Reúne as cidades do Circuito das Águas (São Lourenço/Baipendi/Auruoca). Congonhas – 7/9 – 8h00 – Praça da Matriz Nossa Senhora Conceição, reúne as cidades que compõem a Arquidiocese de Mariana. Esmeraldas - 7/9 - 8h30 - Concentração Praça Getúlio Vargas. Governador Valadares - 7/9 - 8h00 - Concentração Praça dos Pioneiros; 9h00 - Abertura do movimento cívico com o Grupo Maracatudo, cânticos proféticos e apresentação dos gritos, espaço Falas lideranças dos movimentos sociais, pastorais, coletivos e grupos de luta e resistência. Por justiça, saúde, educação, trabalho, moradia, terra, território e soberania. Diocese de Itabira/Coronel Fabriciano tem uma programação: João Monlevade - 29/8 - 17h00 – pré grito - Audiência pública na Câmara Municipal. Ipatinga – 30/8 – 16h00 – Concentração Praça da Bíblia, centro local do Monumento do Massacre, ocorrido na cidade, em 7 de outubro 1963, seguida de caminhada, de onde seguirão para a Audiência Pública com os diversos gritos. Ipatinga - 04/8 - 18h30 – pré grito - Audiência pública na Câmara Municipal. Itabira - 4/9 – 18h30 – Audiência pública na Câmara Municipal. Ipatinga – 7/9 – 8h00 – Grande Grito – concentração Estação ferroviária, 9h00 – abertura oficial, Café partilhado, convocação para a caminhada e às 12h encerramento com Gritaço na Praça em frente a Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Rua Caetés, 495, Falas durante a caminhada, místicas, cantorias e encerra com a partilha do almoço. Itaobim e Medina - 7/9. Jequeri – de 11 a 31/08 realizaram diversas rodas de conversa nos setores São Vicente, Centro Jequeri, Pouso Alegre, Piscamba, Grota, Ramos, Jequeri; 03/09 – Realizaram o 2º Grito, às 8h – concentração Praça Senador – Rua Antônio Martins – 9h00 caminhada e celebração João Bosco Galais. Juiz de Fora – 7/9 – 8h30 – Concentração Av. Rio Branco entre a Av. Itamar Franco e Oscar Vidal. CUT MG REGIONAL ZONA DA MATA, várias entidades e partidos políticos de esquerda com presença confirmada, pela revogação das reformas trabalhista, previdenciária e do novo ensino médio, não à privatização da CEMIG, COPASA e CODEMIG, contra a violência policial ao povo negro, Fora Zema. Montes Claros – 7/9 – 8h00 – Concentração em frente Fábrica de Café 3 corações – Cidade industrial, pelo segundo ano estaremos nas periferias. Pouso Alegre – 7/9 – 9h00 – Praça Senador José Bento, em frente Catedral Metropolitana; Caminhada na Av. Dr. Lisboa, na sequência do desfile cívico-militar. Uberaba Uberlândia – 7/9 – 9h00 – Praça Nossa Senhora Aparecida, bairro Aparecida, com arrecadação de alimentos não perecíveis que serão destinados às cozinhas comunitárias da cidade. RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro – 4/9 – 19h00 - Jubileu Sul Brasil e Central de Movimentos Populares realizam Pré-Grito local da Pequena África, no Espaço Malungo; 7/9 – 9h00 – Esquina da Uruguaiana com Presidente Vargas. A partir das 16h00, O Samba brilha com todos os excluídos e excluídas – Bar Pingo de Ouro, Cinelândia. Petrópolis – 7/9 – 9h00 – Concentração Bosque do Imperador. SÃO PAULO São Paulo – 7/9 – 9h00 – Praça Oswaldo Cruz/Paulista; Caminhada até Ibirapuera – contra o genocídio do povo negro, indígenas e quilombolas, contra a privatização da Sabesp, em defesa do SUS, pelo fim da violência contra as mulheres, pela prisão de Bolsonaro. São Paulo – 7/9 – 8h00 – Café com as irmãs e irmãos em situação de rua, 9h30 – Praça da Sé; 9h30 – Ato público pelo direito à cidade, contra o despejo da Comuna da Terra Irmã Alberta, direito à vida, direito à saúde pública, direito à mordia, em apoio ao trabalho de solidariedade do Padre Júlio Lancelotti, direito à educação pública e de qualidade, direito ao emprego com direitos, pela demarcação das terras indígenas. Haverá coleta de roupas, sapatos e alimentos no local. Aparecida – 7/9 - 06h00 - Concentração dos romeiros/as e manifestantes do Grito na Praça Nossa Senhora Aparecida, em frente à Basílica Histórica, onde haverá mística; 07h30 – Início da caminhada até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Percurso: Monte Carmelo, Travessa Cônego Henrique, Rua Oliveira Braga, Rua Maestro B. Barreto, Av. Getúlio Vargas, atravessando a rodovia de ligação BR 488; 08h20 – Chegada ao Santuário / Celebração do Grito; 09h00 – Missa celebrada por Dom Reginaldo Andrietta e transmitida ao vivo pela TV Aparecida. Barretos – 7/9 – 17h00 – Catedral. Campinas e região – 7/9 – 9h00 – Concentração Praça Largo do Pará. Guarulhos (Diocese) – 2/9 – 9h00 – concentração em frente à prefeitura/ Fome e sede em relação à saúde; Caminhada até o Hospital Municipal para um abraço. Jaboticabal – 2/9 - no Horto florestal Guarani, com a participação da pastoral dos migrantes da diocese de Jaboticabal Louveira – 7/9 – 9h – Celebração do Grito na Paroquia N. Sra. Mae dos Homens, presidida por Dom Arnaldo Carvalheiro Netos (reúne a Diocese de Jundiaí) Mauá – Romaria a Pé – 01/9 – Saída da Paróquia São João Batista de 24 caminhantes e mais quaro pessoas de apoio. Chegada em Aparecida/SP – 5/9 – entre 11 e 12 horas. Mogi das Cruzes/Região Alto Tietê/SP – 7/9 – 8h30 (falas); 9h00 – Missa; Café; Caminhada até Praça Cívica; Ato Público contra micropolítica do governo estadual, contra pedágio na Mogi-Dutra, contra privatização da Sabesp e outras. Santos/Baixada Santista – 7/9 – 9h00 – Concentração Paróquia Sagrada Família, Praça Bruno Barbosa, Castelo; 9h30 - Ato Inter-religioso, na proposta da Cultura e Paz; 10h00 – Abertura das falas quatro grupos; 10h15 – Reflexão Mães de Maio; 10h30 - Abertura para falas 4 grupos, coletivo ou movimento; 10h45 – Rodas de Conversa: Violências - Claudia Bernardo, Salete Santos, Yvie Favero, mães de maio, Juros Altos – Eliza Riesco, Célia Amado, Trabalho, emprego e renda – Carlos Riesco, Eneida Koury; 11h30 - Abertura para falas 4 grupos, coletivo ou movimento; 11h45 – Caminhada – proposta de 3 paradas com fala de dois representantes daqueles que participaram das rodas de conversa; 12h15 – Encerramento; Gesto Concreto: Alimentos não perecíveis. São Bernardo do Campo – 7/9 – 8h00 – Missa Igreja Matriz de São Bernardo do Campo, celebrada pelo bispo Pedro Carlos Cipolini; 9h00 – Concentração, Café e esquenta na Praça da Matriz; Caminhada até à sede do Projeto Meninos e Meninas de Rua, Rua Jurubatuba, com várias paradas e expressão de gritos; 11h30 - Mística inter-religiosa; 12h00 - atividades culturais e lanche. Atividade reúne a região do ABCDMRR. São Sebastião – 7/9 – 9h30 às 18h30, Clube Portal da Olaria, Rua da juventude, 35, com Mesas de debates; Feira Agroecológica; Ato público e apresentação musical, é organizado pelo Coletivo Caiçara (reúne as cidades do litoral norte - São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba). Boiçucanga - 7/9 - 14h00 - Costa Sul de São Sebastião, na Praça Por do Sol. São José dos Campos – 7/9 – 8h00 – Em frente Matriz São José, no centro. Sede de derrubar a Lei 651 que permite que o prefeito junto com a polícia derrubarem casas sem liminar judicial, com violência. Pradópolis Taubaté Araçatuba - 7/9 - 9h00 - Ato ecumênico, Praça Rui Barbosa. Ribeirão Preto - Suzano - Piracicaba - Registro/Diocese - Vale do Ribeira - EGIÃO SU REGIÃO SUL PARANÁ Curitiba - 7/9 – 8h00 – Concentração no Centro de Formação Santo Dias, Vila Torres; Café; Caminhada até a Casa de Passagem e Cultura Indígena. Com movimentos sociais, sindicatos, associações, moradores da região, povos indígenas, Igrejas e religiões num claro objetivo de denunciar a fome no Brasil, e tendo a conquista da segurança alimentar como pré-requisito da dignidade humana, democracia e soberania nacional. Trazer 1kg de alimento não perecível para doação para os Povos Originários. Terá venda de Artesanatos indígenas e produtos da economia popular solidária. Campo Mourão – realizarão algumas rodas/atividades de escuta dos gritos, diversos seguimentos e dessa escuta um documento para a promotoria pública e órgãos oficiais, e atos marcados para outubro – novembro. Maringá – 6/9 – 14h00 – Tenda do 29º Grito no Estacionamento do Terminal Intermodal; 17h00 – Ato público. Arrecadação de alimentos para a Ocupação Dom Helder Câmara - um ano de resistência. Matinhos – 4/9 – Roda de Conversa – 19h00; 7/9 - 1º Grito – concentração 7h30, na praça central (reúnem as cidades do litoral de Pontal do Paraná e Paranaguá-Este). SANTA CATARINA Blumenau – 7/9 – 8h concentração na Praça do Teatro Carlos Gomes, Rua Pres. John Kenedy. Caçador - 7/9 - 8h00 - no local do desfile oficial; Celebrações nas comunidades da Área Pastoral do Martelo e igrejas do centro (Cristo Redentor e catedral); 28/9 - Encontro com agentes das diversas pastorais para a partilha de como têm realizado sua missão, de ouvir o Grito e ser a voz dos excluídos. Chapecó – 7/9 - 9h00 - Terminal Urbano - Pátria livre para quem? O Brasil é o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo. Em 2022, 274 de nós morreram simplesmente pelo fato de serem quem são. Mas quantos mais de nós não morrem diariamente pelas ruas, excluídos da sociedade, com fome, sede, odiados e oprimidos? BASTA! Nossas vidas em primeiro lugar! (UNALGBT). Na Diocese, Celebrações nos bairros. Jaraguá do Sul - 7/9 - Praça do Museu da Paz. São Miguel do Oeste/Anchieta - 7/9 - Mobilização com estudantes, movimentos e pastorais com a bandeira da universidade federal para o Extremo Oeste. Gaspar - Joinville – 3/9 – 20h00 – Dia D, roda de conversa; 7/9 – das 14 às 17h, Paróquia São Miguel Arcanjo, Paranaguamirim, com lanche compartilhado (Rua Paulo Roberto Anastácio, 1170). Tubarão - 7/9 Lages – 2/9 – Ato público – calçadão da Praça João Costa; Rodas de Conversa agosto e setembro – comunidades e entidades – Centro Social Santo Antônio (26/8), Bairro Araucária (31/8), Caritas-Leoni (4/9), Lorival bet-Caritas (11/9), Guarujá-Giovani (16/9), Ferrovia-Elisete (23/9), Setor Juventude, Morro da Cruz (29/10); Audiência pública Câmara Municipal – 24/11. RIO GRANDE DO SUL Porto Alegre – 2/9 – 14h00 – pré Grito no modulo da Praça da Vila Barracão, no bairro Cruzeiro é grande bairro popular Porto Alegre. Passo Fundo - 5/9 - 19h30 - Salão paroquial da Paróquia Santa Teresinha. Canoas – 30/8 pré grito. Pelotas – 5/9 – Pré Grito. 7/9 – 10h00 – Grito Unificado no Largo do Mercado Público, com participação de crianças e seus gritos, poesias, música e falas; oficina de cartazes e ensaio de ações culturais; 11h30 – Caminhada ao redor da praça; e retorno ao Largo com um abraço coletivo. 30/09 – 19h - Celebração e Sopão comunitário – catedral do Redentor – Telles 711. São Leopoldo – 7/9 – Grito Metropolitano – 8h30 – Concentração Palquinho Estação São Leopoldo Trensurb; Caminhada até a Comunidade Ocupação da Steigleder/MNLM, onde vivem 211 famílias, muitas sobrevivem com reciclagem e onde funciona uma cozinha solidária. Haverá várias paradas onde serão apresentados gritos diversos: juventude, vítimas das mudanças climáticas, da população em situação de rua e encarcerada, lgbtquia+, mulheres, migrantes e povos originários e população negra, por educação, saúde e trabalho, pela democracia. Encerramento: Ato inter-religioso e almoço solidário. *Não há informações ainda de Brasília

  • No grito dos excluídos, o Mutirão da Profecia

    Por: Marcelo Barros, monge beneditino, biblista e escritor; assessor do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e das Comunidades Eclesiais de Base Nesta próxima semana, ao mesmo tempo que, por todo o Brasil, acontecem cerimônias e eventos que recordam a independência do nosso país, também as categorias mais pobres expressarão o seu grito por Vida e por Libertação. Desde 1995, as comemorações da independência do Brasil têm sido marcadas pelas manifestações populares que se chamam Grito dos Excluídos. Esse evento teve origem em meio às pastorais sociais ligadas à CNBB na realização da 2ª Semana Social Brasileira. E embora tenha sido iniciativa das pastorais sociais, desde o começo, o Grito dos Excluídos e excluídas se abriu à participação dos movimentos populares e de entidades cristãs ecumênicas como o CONIC, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. Neste ano, o 29º Grito tem como sempre o tema: “Vida em Primeiro Lugar” . O lema é a pergunta: “Você tem Fome e Sede de Quê?”. A ideia é provocar entre o povo o diálogo baseado na escuta sobre essas questões. O objetivo é responder quais as fomes e sedes que o nosso povo sente. Assim, a partir dos anseios do povo mais empobrecido, poderemos buscar soluções que acabem com toda forma de exclusão e violência. Atualmente, de norte a sul, em todo o país, há mobilizações do Grito dos Excluídos. Realiza-se como manifestação coletiva que se soma à construção em processo da 6ª Semana Social Brasileira. Estão mobilizadas as pastorais de Igrejas cristãs, movimentos populares e pessoas de boa vontade sensíveis aos sofrimentos dos mais pobres para que possamos defender e garantir os direitos dos pobres e marginalizados. Desde os seus inícios, o Grito dos Excluídos e excluídas nos confirma que não há verdadeira independência do país, se a imensa maioria do povo vive em condições de pobreza injusta e de insegurança alimentar. Só poderemos considerar o país independente no dia em que conseguirmos superar a imensa desigualdade social e garantir os direitos fundamentais à Vida, à alimentação, à educação, à moradia e à saúde para todos os brasileiros e brasileiras. Essa realidade que vivemos hoje tem profundas raízes no sistema da colonização que se instalou em nosso continente há mais de 500 anos e se fortaleceu através das tentativas de extermínio dos povos indígenas e da escravização dos povos sequestrados na África. Infelizmente, ao legitimar essa estrutura iníqua, a Igreja Católica e outras Igrejas cristãs contraíram uma dívida histórica com as populações vítimas desse sistema. Cumpre agora saldar essa dívida. Desde tempos imemoriais, os impérios usaram as religiões e os cultos para se perpetuarem no poder. Por isso, durante toda a história, em diversas culturas e nas mais diferentes linguagens espirituais, surgiram profetas e profetizas que protestaram contra a religião usada como instrumento do poder para dominar as pessoas. Na Bíblia, os antigos profetas e profetizas sempre insistiram que o nome de Deus é Justiça libertadora. Maria, mãe de Jesus cantou que se Deus é Deus, derruba do trono os poderosos e eleva os pequenos. Na sinagoga de Nazaré, Jesus afirma que o Espírito Divino desceu sobre ele para realizar a libertação de todas as pessoas oprimidas. Não foi por engano que os funcionários do templo e da religião ritual o prenderam e o entregaram aos militares romanos para ser condenado a morrer na cruz! Atualmente, Francisco, bispo de Roma, propõe uma Igreja em saída que cuida dos migrantes, dos pobres e das populações excluídas, apesar de um grande número de padres e bispos se agarrarem a uma religião autocentrada e tentarem reativar o Catolicismo barroco de tempos passados. Diante disso, cristãos de várias Igrejas têm sentido o chamado divino para reafirmar o caráter profético da fé cristã e querem unir as suas vozes ao 29º Grito dos Excluídos através do Mutirão da Profecia. É preciso dizer claramente ao mundo que a fé e a espiritualidade devem tornar as pessoas mais humanas e atentas ao cuidado dos pobres. Para isso, temos os sacramentos da Igreja, que, ou são sinais de partilha e comunhão de vida para todos e todas, ou não são de Jesus Cristo. Assim, a fé no Evangelho que Jesus anunciou como boa nova de libertação para toda a humanidade nos levará a clamar que ninguém passe fome nem sede. Fonte: https://cebi.org.br/partilhas/no-grito-dos-excluidos-o-mutirao-da-profecia/?fbclid=IwAR3UUxQCQyjJGXZ_5weoaMg-jLaq0t7M_HMj6Qv79Jdzu8HgEs-QGUzvN1A

  • Superação da fome, acesso à água e justiça social são temas do Grito dos/as Excluídos/as 2023

    Coletiva nacional do Grito acontecerá no 04/9/2022, às 10 horas (Horário de Brasília), no formato online. Com o objetivo de mobilizar a participação da sociedade civil em torno dos problemas estruturais que atentam contra a vida do povo mais vulnerável, a Articulação Nacional do Grito dos/as Excluídos/as fará a sua tradicional coletiva de imprensa, no dia 04 de setembro, no formato online, cm transmissão pela página oficial do Grito no Facebook e pelo canal do Youtube. Com a pergunta: “Você tem fome e sede de quê? ”, que é o lema desse ano, o Grito dos Excluídos e Excluídas convida todas e todos à reflexão e ação em busca de alternativas para os enormes problemas que o povo enfrenta com a questão da fome e da água. O lema anual do Grito é debatido e definido a partir das sugestões de uma rede de articuladores e articuladores de todo o Brasil e sempre dialoga com o tema da CF – Campanha da Fraternidade, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com a conjuntura política, social e econômica do país e com a luta dos movimentos populares e sociais. Nos seus 29 anos de história, o Grito dos Excluídos e Excluídas tem por objetivo valorizar a vida e anunciar a esperança de um mundo melhor, por isso seu tema permanente é “Vida em Primeiro Lugar!”. Frei Zeca, articulador em Poconé, Mato Grosso, ressalta a importância do Grito “por incentivar ações que fortaleçam e mobilizem as pessoas, nos mais longínquos locais do Brasil, na luta por seus direitos, na denúncia das injustiças e violências, causadas pelo sistema neoliberal que exclui, degrada e mata”. No dia 7 de setembro, acontece em todo Brasil atos públicos, caminhadas e mobilizações populares, como forma de chamar atenção para as transformações que o país precisa para ser de fato independente e garantir vida digna para todas as pessoas, com justiça social, acesso a direitos fundamentais, equilíbrio econômico e desenvolvimento da ciência e tecnologia. Água e alimento Dalila Alves Calisto, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), mestra em Geografia, afirma que “a água é um direito humano, um bem comum e um Patrimônio da Humanidade, que deve estar sob o controle popular e não das grandes empresas multinacionais. O Brasil possui a maior reserva de água potável do mundo (13%), no entanto, pelo menos 35 milhões de brasileiros seguem excluídos ao acesso regular de abastecimento e outros serviços”. Segundo Vera Vilela, nutricionista, educadora em saúde e mestra em Saúde Pública, “a fome não é um fenômeno vinculado às questões pontuais, como a seca por exemplo, mas historicamente faz parte da estruturação da sociedade brasileira, desde o período colonial, através de uma inclusão desigual dos diversos grupos sociais nas diversas regiões do país”. Quem participa da coletiva A Coletiva Nacional contará com a participação de: Dom José Valdeci Santos Mendes - bispo de Brejo/MA e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sociotransformadora da CNBB. Leila Denise – Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) – Coordenação Rondônia e Via Campesina. José Vanilson Torres da Silva - Movimento Nacional População de Rua-MNPR no Rio Grande do Norte/Nordeste e coordenação nacional. Rosilene de Jesus Santos/Negah Rosi - Raizeira e Educadora União dos Atingidos - São Sebastião - Litoral Norte/SP Mediação: Dani Hohn - Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que integra a Coordenação Nacional do Grito dos Excluídos e Excluídas. SERVIÇO: Data: 04/09 (segunda-feira) Horário: 10h (Horário de Brasília) Transmissão ao vivo pelo Youtube e Facebook do Grito dos Excluídos e Excluídas e entidades parceiras www.youtube.com/gritodosexcluidos - https://www.facebook.com/grito.dosexcluidos Mais informações: Secretaria Nacional: (11) 2272 0627 Ari Alberti: (11) 99950-3506 Karina Pereira da Silva: (11) 99372-3919

  • “DIALOGANDO” teve participação de todo o Brasil

    Como parte das atividades em preparação ao 29º Grito dos Excluídos e Excluídas, a Coordenação Nacional realizou o “Dialogando”, uma transmissão ao vivo, no dia 21/8, que reuniu participantes de dezesseis estados das cinco regiões do país. Para refletir sobre o lema de 2023, “Você tem fome e sede de quê? ”, o evento contou com a contribuição de Dalila Alves Calisto, do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens – mestra em Geografia, pela UNESP, e Vera Helena Lessa Vilela, nutricionista, educadora em saúde e mestra em Saúde Pública, pela USP, presidenta do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (COMUSAN-SP), representando o Sindicato de Nutricionistas do Estado de São Paulo. A mediação ficou com Frei Zeca, articulador do Grito de Poconé, Mato Grosso e a colaboração de Yvie Favero, articuladora do Grito da Baixada Santista/SP, e com suporte técnico de Juce Rocha, do Jubileu Sul Brasil. Na abertura, Frei Zeca destacou que o objetivo do Grito dos Excluídos e Excluídos, nos seus 29 anos de trajetória, é valorizar a vida e anunciar a esperança de um mundo melhor, por isso seu tema permanente “Vida em Primeiro Lugar! ”. Ele ressaltou também a importância do Grito de incentivar ações que fortaleçam e mobilizem as pessoas, nos mais longínquos locais do Brasil, na luta por seus direitos, na denúncia das injustiças e violências, causadas pelo sistema neoliberal que exclui, degrada e mata. Ações que acontecem não só por ocasião do 7 de Setembro, mas durante todo o ano. Em 2023, o Grito abre a possibilidade de refletirmos e buscarmos juntos e juntas alternativas para os enormes problemas que o povo enfrenta, a partir de uma pergunta: “Você tem fome e sede de quê? ”. “Água, direito humano, patrimônio do povo” Dalila Alves Calisto lembrou que o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) faz parte da articulação e construção coletiva do Grito há vários anos. Para ela, o Grito é um momento que marca a vida de trabalhadores e trabalhadoras e militantes, a luta e a resistência no processo de organização da esquerda e dos lutadores e lutadoras e dos defensores dos direitos humanos no Brasil”. Como assegurou Dalila, para o MAB, a água é um direito humano, um bem comum e um Patrimônio da Humanidade, que deve estar sob o controle popular e não das grandes empresas multinacionais. No entanto, o acesso a esse direito tem sido de maneira desigual ao longo da história. O Brasil possui a maior reserva potável de água doce do mundo, cerca de 13% está concentrado aqui, mas pelo menos 35 milhões de pessoas seguem excluídas do acesso regular de abastecimento de água e outros serviços. Então isso é uma das questões centrais. A outra questão, segundo Dalila, é que as empresas transnacionais, os bancos privados, principalmente o Itaú e o Bradesco, o Banco Mundial, o banco da Suíça BTG Pactual e os fundos de investimentos, sobretudo estrangeiros, estão numa corrida para privatizar os serviços de água e saneamento e as reservas potáveis, incluindo bacias hidrográficas dos rios e aquíferos situados no Brasil. Recursos que são essenciais para manutenção da vida humana e da reprodução da existência, assim como para todas as atividades laborais produtivas, até mesmo as domésticas. Praticamente, todas as atividades humanas dependem do uso da água, inclusive as industriais para a produção de mercadorias. Essas empresas foram percebendo que como a água é um recurso fundamental e sem ela não existe vida, se transformada em negócio, a partir de uma lógica de um sistema tarifado, por exemplo, é um recurso a ser explorado. Para Dalila, essa denúncia e a luta para combater o processo de privatização da água precisamos engrossar cada vez mais. “Precisamos fortalecer a luta em defesa da água, dos rios e dos aquíferos, em defesa dos serviços de saneamento básico no nosso país. Para que continuem sendo geridos pelas empresas públicas, pelas companhias de saneamento que nós temos espalhados em todos os estados brasileiros. ” Nos últimos anos, temos visto essa ameaça se avolumar, principalmente com o golpe à democracia, em 2016, e como uma das primeiras iniciativas do governo interino de Michel Temer naquela época. No segundo semestre de 2016, foram feitos estudos para avançar em medidas legais com o objetivo de viabilizar a privatização do saneamento. Nova lei desmantela setor público de saneamento Mais tarde, em 2020, vimos ser aprovada pelo Congresso Nacional, no pior momento da pandemia da covid-19, em regime de urgência, sem qualquer debate com a sociedade, a lei nº14.026, que altera a lei existente da política pública de saneamento básico no Brasil. Conhecida como o novo Marco Legal do Saneamento, a nova lei desmantela o setor político público e garante uma respiração da indústria, a partir dos interesses dos bancos privados, os fundos de investimentos e das empresas criadas para gerirem e controlar o setor de saneamento no Brasil e os demais serviços, assim como toda a reserva potável de água doce do país. No combate ao avanço da privatização da água e do saneamento, o MAB se junta às lutas que vêm sendo desenvolvidas com os sindicatos, as organizações de igrejas, em vários territórios do país. O movimento defende que a água em seu todo – bacias hidrográficas, rios, aquíferos - continue sendo controlada pela gestão pública, assim como os serviços de saneamento. O MAB entende que a nova lei só traz consequências negativas para a classe trabalhadora, porque prioriza os interesses privados. Para se ter uma ideia, por exemplo, em seus principais artigos de mudança, a Lei 14.026 determina a proibição dos contratos de programa, que é a forma pela qual a política pública do saneamento no Brasil funciona para garantir que o órgão municipal, responsável pela prestação dos serviços, faça um contrato com a Companhia Estadual de saneamento. Além disso, obriga que em toda nova prestação de serviços haja abertura de licitações, onde empresas privadas da área poderão participar e concorrer igualmente com uma empresa pública. Entre as modificações que a nova lei traz, tem também a questão da tarifa que vai determinar novos modelos de cobranças. Com a aplicação da lei dezenas de estados brasileiros, de capitais e cidades médias já estão sofrendo com o processo bem acelerado de privatização da água e saneamento. Em alguns casos as próprias empresas públicas estão correndo risco de ter os seus serviços privatizados, como a Sabesp, no Estado de São Paulo. Privatização significa destruição e morte A gente ouve isso com muita preocupação, alerta Dalila, porque já conhecemos experiências de privatização de diversos serviços e ramos da economia do Brasil. Desde a questão da mineração e o que significou a privatização da Vale do Rio Doce, com uma sequência de crimes socioambientais, causando a destruição de rios e de vidas humanas, da vegetação e de animais. É um retrato do que representa a privatização. Exatamente o contrário da mensagem que anunciamos no Grito dos Excluídos e Excluídas. A lógica da privatização é colocar a vida e o lucro em primeiro lugar. Se a gente observar em vários serviços que já passaram pela privatização, como o setor elétrico, por exemplo, vamos constatar as consequências trágicas para a vida das populações. Hoje, o Brasil tem a maior reserva potável de água, uma base natural hídrica vantajosa que permite com que a nossa a produção de energia elétrica seja a mais barata do mundo. No entanto, o povo paga uma das mais caras taxas. Dalila lembra que em outros países onde serviços de saneamento e energia foram privatizados comprovou-se o fracasso e muitos estão voltando atrás e reestatizando. Numa perspectiva geopolítica, afirma Dalila, a privatização de serviços que envolvem direitos básicos da população vai contra a soberania do país. As consequências em transformar direitos em mercadorias, seguindo a lógica do lucro, recaem diretamente sobre a classe trabalhadora e as localidades periféricas. Ao privatizarem água e os serviços de saneamento, as empresas focam as regiões onde já existe uma infraestrutura montada e as que são mais rentáveis, em geral as capitais e médias cidades. Em detrimento das periferias, das cidades pequenas, das áreas rurais, que permanecem sobre a responsabilidade das empresas públicas, por falta de incentivos, em geral deficitárias. Estudos apontam que dos 75 milhões de domicílios no Brasil hoje a metade é chefiada por mulheres. Então o tema do direito humano à água potável e do direito à alimentação têm muito a ver com as mulheres brasileiras que, muitas vezes, sustentam suas famílias com salários inferiores aos dos homens. Sobretudo as que moram em periferias e favelas, locais sem estrutura básica que atenda às necessidades da família. Que, em sua vida cotidiana, convivem com dilemas e preocupações para conseguir pagar as contas de água no final do mês, a conta de esgoto e a de luz e garantir comida na mesa. Porque muitas mulheres, muitas famílias se vêm nesse dilema de não saber se paga a conta de luz e a de água ou se coloca comida na mesa. Situação que se agravou no último período com o governo Bolsonaro com a carestia no preço dos alimentos, da luz, da gasolina dos combustíveis, do gás. Grande parte do salário mínimo do trabalhador, da trabalhadora corresponde ao pagamento dessas contas, “então é preciso fortalecer a luta para baixar o preço da luz e contra também essa onda de privatizações no saneamento porque caso isso continue avançando haverá uma sobrecarga de tarifas. ” É muito importante que o Grito chame a atenção para essas questões – água e alimentação – na perspectiva de um projeto de soberania do país, que passa pela soberania alimentar e a defesa da água, concluiu. PL do mercado da água e a soberania do país Dalila alertou para o avanço na legislação no que se refere à mercantilização da água no Brasil, que se deu com o golpe à democracia. Exemplo disso é o projeto de Lei nº 495, de 2017, de autoria do senador Tasso Jereissati (PSDB, do Ceará), que introduz os mercados de água como instrumento para promover alocação mais eficiente dos recursos hídricos. As empresas dependem do estado para poder avançar os seus planos e é o estado que vai dar a forma legal para os interesses do capital. Caso o PL 495 seja aprovado e vire lei é um grande risco à soberania do Brasil. A partir dessa lei as empresas privadas podem vir a ter o domínio e o controle pleno sobre as reservas potáveis de água do país. Eles querem criar/institucionalizar um mercado mundial de água onde as empresas vão poder negociar direitos de uso. E as pessoas só vão poder acessar a água se tiverem outorga de uso sobre os rios, por exemplo, o que vai restringir o acesso dos agricultores ribeirinhos, para o seu plantio. Quem utilizar mais sofrerá multas de até 50 mil reais. “Nós temos uma esperança de que nesse momento em que estamos vivendo da nossa história, com esse novo governo é uma oportunidade de a gente frear esse avanço e a tramitação dessa lei. Momento de somar forças para impedir que o PL venha ser colocado em votação E se vier que haja possibilidade de impedir esse plano do capital. ” De quais fomes estamos falando? Vera Helena Lessa Vilela destacou o processo de preparação da Conferência Nacional de Segurança Alimentar Nutricional, que será realizada de 11 a 14/12 desse ano, organizada pelo Consea – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nacional. Em todo o país, estão sendo feitas conferências em nível municipal, regional e estadual. Em São Paulo, o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, do qual Vera Vilela é presidente, conta com a assessoria de pesquisadores e estudiosos para aprofundar os temas. Entre eles, o geógrafo José Raimundo Ribeiro Junior, que elaborou um documento orientador com os três pontos principais da conferência: a questão da fome, seus determinantes e as políticas de enfrentamento, o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, como fortalecê-lo na implementação das políticas de garantia do direito à alimentação e nutrição adequadas e o papel da participação e controle social. De quê fome estamos falando? Questiona Vera Vilela, ao discorrer sobre o lema do 29º Grito: “Você tem fome e sede de quê? ”. Ela destaca que, em seu documento, o geógrafo José Raimundo Ribeiro Junior ressalta que a fome tem feito parte da estruturação da sociedade brasileira. Ela não é um fenômeno natural vinculado à questão da seca ou de outras questões. Ela faz parte da maneira como a nossa sociedade foi estruturada desde o período colonial, em todas as regiões do país, através de uma inclusão desigual dos diversos grupos sociais. Também podemos falar daquela fome que é resultante do modelo econômico concentrador de renda e de riqueza e produtor da miséria e da desigualdade, ao longo desse tempo, nas formas de organização do trabalho, da distribuição da renda, do acesso ao trabalho, moradia, transporte, educação. Ou da fome que resulta de um processo de urbanização extremamente acelerado no nosso país. Em mais ou menos 20 anos, temos uma mudança da forma de inserção populacional, de uma população rural para uma população urbana. Marcada também por uma forma de inclusão muito desigual, com a ocupação da terra para a produção de cana, de gado, de milho, de soja para exportação e não para a produção de alimentos, além do alto uso de agrotóxicos. É importante destacar, lembra Vera, que esta forma de utilização da terra não acontece só no Brasil, mas na América Latina de maneira geral, assim como na África e nos países asiáticos, na Índia e na China. Há uma utilização da terra não para produção de alimentos, mas de um conjunto de produtos que são denominados commodities, que tem uma outra destinação no mercado, seja para a produção de ração para animais ou de alimentos ultra processados, grande parte dos alimentos produzidos nas indústrias tem como base milho e a soja transgênicos. Outra fome, destaca Vera, é a que explora e contamina a água, que empobrece o solo por essa forma de utilização de monocultura e utilização ampla de fertilizantes e agrotóxicos. E que acaba empobrecendo e empurrando os agricultores familiares para cidades. As formas da fome Para definir a fome, Vera Vilela cita também Josué de Castro, médico, geógrafo e pesquisador sobre a questão, autor de “Geografia da Fome”, 1940. Para ele há duas formas de fome – a total e a oculta. A primeira – total - são as formas mais graves da privação de alimentos, que leva à inanição e que significa uma falta completa de alimentos, levando ao emagrecimento acentuado e inclusive à morte. A segunda – oculta – definição que foi o resultado dos estudos e da denúncia que Josué de Castro traz em seu livro. No Brasil, milhões de brasileiros, embora se alimentem todos os dias, vão lentamente morrendo pela falta de qualidade dos alimentos consumidos. Segundo Vera, a definição de fome que embasa atualmente a maioria dos estudos no mundo e no país sobre a questão trabalharam uma percepção qualitativa de experiências de fome e que acabaram gerando escalas, divulgadas nas publicações da Rede de Pesquisadores Nacionais de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional - Rede Penssan - e também foi adotada pelo IBGE na última pesquisa. De acordo com esses estudos, há duas formas de entender a questão da fome. A partir dessa percepção qualitativa, que é o risco de fome, que seria a insegurança alimentar leve. Ou seja, quando as famílias passam a ter um momento de preocupação e de ansiedade e até medo, causados pela perspectiva de não terem os alimentos ou formas para adquiri-los de forma suficiente. E isso acaba impactando já na qualidade e variedade da alimentação dessas famílias. A segunda forma de entender a fome propriamente dita, enquanto insegurança alimentar moderada e grave, é o momento em que as pessoas passam a experimentar, contínua ou intermitentemente, sensações físicas e psíquicas causadas pela privação de alimentos. Essa privação pode ser mais ou menos severa, logo, a intensidade da fome é variável, podendo chegar nos casos mais graves ao estágio de inanição, que é a magreza extrema e a baixa estatura. Quem começou esses estudos foram Radimer e Wehler (1980), duas pesquisadoras nortemericanas. E aí a gente passa a ter aqui no Brasil a aplicação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA, medida a partir de domicílios, acompanhamento da evolução da situação alimentar no país e o reconhecimento da complexa e desigual distribuição da fome no território brasileiro. Políticas públicas e a fome Para Vera Vilela, temos algumas políticas públicas para resolver o problema da fome, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que precisa ter o fortalecimento e aumento dos valores destinados, bem como um monitoramento adequado por parte do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação. No município de São Paulo, adverte, tem uma questão da terceirização muito forte da alimentação escolar. Com isso, as crianças e jovens passam a não receber mais os alimentos comprados dos agricultores familiares porque os contratos não exigem isso. “Essa é uma situação séria e a gente tem que ter esse monitoramento adequado por parte do FNDE e a retomada do Programa de Aquisição de Alimentos”. Para o combate à fome, Vera aponta para além de políticas públicas emergenciais, citando a necessidade de mudanças no modelo agrícola, na agropecuária, que haja mais financiamento para a produção de alimentos. “Que haja controle da utilização de agrotóxicos na produção agrícola, que se tenha uma renda básica de cidadania como coloca o Suplicy. Qual é a maior causa da fome? ”, ela questiona. “É a questão da renda, da possibilidade do acesso à renda”. “Essas são as grandes linhas, além da necessidade de se fazer a aproximação de produtores e consumidores para que o alimento que é produzido, sem veneno, chegue para todo mundo e não só para uma elite. E facilitar o insumo e a logística de comercialização dos produtos”.

  • De que eu tenho fome... de que eu tenho sede...

    A Campanha da Fraternidade deste ano de 2023 traz-nos como reflexão o tema da fome com o lema “Dai-lhes vós mesmo de comer!”, tirado do capítulo catorze do evangelho da comunidade de Mateus. O Grito dos Excluídos e Excluídas de 2023 reafirmando a vida em primeiro lugar, na sua vigésima nona edição, coloca-nos uma questão vital: “Você tem fome e sede de que? ” Falando de fome, eu diria que tenho fome de uma democracia verdadeira, em que realmente o poder de decisão esteja nas mãos do povo, dos pequenos, dos periféricos, daqueles e daquelas que são considerados escórias do nosso mundo egocêntrico, neoliberal, dos jovens, dos pobres, dos pretos que habitam os subterrâneos das masmorras que constituem nossas periferias urbanas e existenciais, autênticos campos de extermínio e máquinas que moem corpos e matam vidas inocentes. Falando de fome eu diria que minha fome sonha com uma economia ao serviço da vida, a de Francisco e Clara, onde se respeitam e valorizam as culturas e os saberes. Onde todos e todas têm direito a terra, teto e trabalho, e onde o egoísmo se transforma em ecocentrismo, fortalecendo a ecologia integral e o cuidado com a Pacha Mama, Mãe Terra, casa comum de todos os seres que povoam o universo. Tenho também sede, sede de justiça capaz de reconhecer a plena cidadania dos povos nativos, de respeitar suas terras, rios, mananciais, culturas, saberes, credos, e suas cosmovisões. Tenho sede de rios e lençóis aquíferos sem poluição, de nossos biomas em sua integridade e do respeito de sua biodiversidade. Tenho sede de uma sociedade e convívio onde a diversidade, a pluriculturalidade, plurietnicidade, são valores e riquezas, e onde o diferente dá plenitude ao nosso ser e existir. Tenho fome e sede de relações fraternas e solidárias, onde não tem espaço para armamento, militarismo, medo, suspeita, violência do estado, milícias, encarceramento em massa e onde se constrói junto e com responsabilidade o bem viver, a terra sem males, o mundo sem cárceres, a civilização do amor e como afirma Francisco: FRATELLI TUTTI, o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, «o seu irmão e irmã, tanto quando está longe, como quando está junto de si». Fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita. Enfim a minha sede e fome e de outro mundo fraterno e amigo, um mundo possível porque sonhado e buscado juntos. Gianfranco Graziola, Missionário da Consolata, Assessor Teológico da Pastoral Carcerária Nacional

  • DIALOGANDO PRÉ-GRITO - "VOCÊ TEM FOME E SEDE DE QUÊ?"

    No cenário atual, onde a sustentabilidade e os direitos humanos têm ganhado destaque crescente na agenda global, o Brasil enfrenta desafios intrincados. "VOCÊ TEM FOME E SEDE DE QUÊ?", lema do 29º Grito dos Excluídos e Excluídas, é a pergunta que reverbera em meio a estas questões, e será o tema de um diálogo, em nível nacional, no próximo dia 21/08/2023. O Dialogando ao vivo discute a questão da fome e segurança alimentar e consequências da mercantilização da água e privatização do saneamento público, com a participação de especialistas do setor: Vera Helena Lessa Villela, nutricionista e Educadora em Saúde, e presidente para o período de 2022 a 2024 do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional COMUSAN de São Paulo discutirá as dimensões da segurança alimentar e da fome, assim como a questão do agronegócio e agricultura familiar, também a partir de sua experiência no Conselho. Dalila Alves Calisto, militante da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB e Mestra em Geografia pela UNESP, trará à mesa as inúmeras nuances que envolvem a questão da água no país, com impactos não são somente físicos, mas também socioeconômicos. Em sua pesquisa ela destaca que nas últimas décadas, especialmente, combinado com a expansão do poder capitalista do setor financeiro está em curso uma estratégia internacional de privatização e/ou expansão da mercantilização da água no Brasil, onde está concentrada 13% das reservas de água potável do planeta. Como parte dessa estratégia, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei nº 14.026/20 que altera o marco regulatório do saneamento, visando reestruturar a cadeia produtiva de saneamento de acordo com os interesses do capital internacional e está em tramitação o Projeto de lei nº 495/2017 de criação de mercados de água. Mediando este importante diálogo, teremos Frei Zeca, Articulador Grito do Estado do Mato Grosso.

  • Encontro Nacional reúne articuladores e articuladoras do Grito de todo país

    Representantes de 22 Estados, das cinco regiões do Brasil, participaram do 3º Encontro Nacional dos Articuladores e Articuladoras do 29º Grito dos Excluídos e Excluídas, que aconteceu no dia 05/08, de forma virtual. O processo de construção do Grito continua com muita força e energia, expressada nas diversas atividades que se multiplicam nos locais – debates, seminários, reuniões, oficinas de confecção de materiais do Grito, concursos de redação e poesia nas escolas, Esquenta Grito, Grito literário, feiras e saraus culturais, caminhadas, celebrações, rodas de conversa, cirandas, divulgação nas redes sociais. Sempre a partir do tema e lema do Grito: Vida em primeiro lugar! Você tem fome e sede de quê? Diversos locais já definiram a programação das ações para o dia 7 de Setembro e Semana da Pátria. O encontro contou com a contribuição do Padre Alfredo José Gonçalves, que trouxe as várias faces da conjuntura atual, a partir das falas dos articuladores e articuladoras presentes na plenária do Grito. O próximo encontro nacional será no dia 21 de outubro. Para o próximo ano, em que se comemora 30 anos do Grito, a proposta é que o evento volte a ser presencial. ANÁLISE DE CONJUNTURA A expressão “análise de conjuntura”, nesta plenária sobre a preparação do Grito dos Excluídos, é muito pretensiosa para os parágrafos que se seguem. Em lugar disso, convido aos participantes desta plenária a um percurso coletivo através de 4 veredas, em meio a esse grande sertão que é o campo socioeconômico e político-cultural. Espero que a metáfora do grande poeta e escritor brasileiro, Guimarães Rosa, possa nos trazer algumas luzes. Vamos à reflexão aos mesmo tempo particularizada e convergente sobre as referidas veredas: a) reconstrução democrática, b) entrave histórico-estrutural, c) sonolência das forças de esquerda e d) avanços na política externa. 1. Reconstrução democrática Inegavelmente o governo atual vem tentando uma reconstrução daquele fio de confiança nas várias instituições e instâncias do regime democrático. O vírus do negacionismo e da indiferença cede o posto a uma esperança que vem das urnas. Prova disso é a retomada das políticas públicas voltadas, em especial, para o combate à fome e subnutrição, ao desemprego e a formas de trabalho informal; para os distintos povos originários (indígenas), as comunidades quilombolas e os movimentos afro-brasileiros; para os setores da educação e saúde; para a preservação do meio ambiente e contra a derrubada da mata; para o acesso dos pobres e excluídos à educação superior (academia) e para as iniciativas ligadas às expressões artísticas, enfim, em benefício da população de baixa renda. Para além disso, vale um olhar atento aos indicadores da economia e do mercado (este último quase sempre de humor sombrio e oscilante). Gradualmente, as perspectivas quanto ao crescimento do PIB, o sobe-e-desce da bolsa de valores e as previsões da inflação, por exemplo, têm se revelado razoavelmente favoráveis. Respira-se um forte anseio por melhorias e mudanças que conduzam o país a políticas não apenas emergenciais, mas estruturais, estáveis e mais profundas. Pouco a pouco, o desmonte praticado pelo governo anterior vem sendo revertido. A democracia brasileira, apesar de suas debilidades crônicas, parece entrar nos trilhos. 2. Entrave histórico-estrutural Na contramão do que acabamos de ver no item acima, permanece uma certa promiscuidade entre os poderes legislativo e executivo (para sequer falar do judiciário em alguns aspectos). O famigerado “centrão”, com o orçamento secreto ou sem ele, segue em grande medida ditando as regras do jogo. Qualquer avanço das políticas públicas direcionadas para a população pobre, excluída e vulnerável arrasta-se a um preço estratosférico. Não bastassem os salários e penduricalhos de cada deputado, as emendas parlamentares continuam um ralo sem fundo do orçamento público. Baste um exemplo: o marco fiscal (famoso arcabouço) teve protelada sua votação, só porque o governo ainda não liberou as verbas correspondentes. Não conseguimos eliminar o balcão de negócios do “toma lá dá cá”. O presidencialismo de coalizão revela seus nós e suas mazelas. Por outro lado, se é verdade que o Bolsonaro está de joelhos diante de tantos inquéritos e processos, também é certo que o bolsonarismo permanece vivo, forte e prepotente. Arreganha os dentes e afia as unhas sempre que a justiça lhe persegue os calcanhares. Segue fazendo com que a violência e a polarização partidária extremas migrem facilmente das redes digitais para as ruas, praças e meios de comunicação em geral. As investigações sobre as tentativas de golpe e de subversão dos resultados das eleições, bem como os ataques aos três poderes da União, realizadas em 8 de janeiro/2023, por exemplo, andam aos tropeços, em avanços e recuos imprevisíveis. A essa altura, emerge uma pergunta instigante e inquietadora: a coalizão de centro-esquerda, que hoje governa o país, terá condições de fazer um segundo mandato? E não se trata aqui de um projeto de caráter socialista (tanto menos do fantasma do “comunismo” que tantos teimam em identificar em cada esquina), e sim de dar continuidade a um projeto de produção eminentemente capitalista, dentro da filosofia neoliberal. Irônica e paradoxalmente, a esquerda em termos globais parece chamada a administrar a crise, o declínio e o fim do paradigma liberal, com sua economia capitalista, onde o lucro e a acumulação funcionam como motor que tudo move. Vale a pena repetir a pergunta: conseguiremos manter as instituições democráticas no rumo certo, ou retornaremos aos tempos sombrios da barbárie, do negacionismo e do escárnio?! 3. Sonolência das forças de esquerda Convido agora a interver a lupa de análise, olhando-nos com coragem para o espelho. O que dizer nos dias de hoje sobre as “forças de esquerda” (na falta de outra expressão) no Brasil e na América Latina e Caribe? Que termos podem ser usados? Vejamos: sonolência, apatia, comodismo, letargia, ou até mesmo preguiça, quem sabe! Desde que a pandemia da Covid-19 fez emergir a possibilidade dos encontros virtuais, como nos custa sair da zona de conforto e voltar aos encontros presenciais! Mas isso é o de menos. O maior problema é que nossas manifestações e mobilizações se tornam tímidas, pífias, não raro insignificantes. Ganham certo entusiasmo por ocasião das últimas eleições majoritárias, depois resfriaram sensível e visivelmente. O presidente Lula tem repetido com insistência: “Não posso governar sozinho”! Porém, vendo as coisas de sua perspectiva, como confiar na força vulcânica das ruas, campos e praças? E sem essa energia do sangue vivo das multidões, como garantir uma governabilidade que favoreça os setores da população empobrecida? De que forma reverter os rumos, horizontes e prioridades do mercado financeiro, por exemplo, dirigindo s benefícios da ciência e da técnica para as necessidades básicas da nação? Essas perguntas somente encontram resposta nas ruas conscientemente mobilizadas. Uma vez mais, da mesma forma que a espiga, a flor ou o edifício, as verdadeiras mudanças se levantam do chão. Transformações reais e estruturais não costumam cair do Planalto Central, mas se erguem a partir das organizações da Planície. E a Igreja Católica? Neste processo de organização do Grito dos Excluídos, é lícito que se pergunte pela contribuição da principal instituição que lhe deu origem e o hoje o promove. E aqui também a sonolência ronda as dioceses, paróquias e comunidades. De um lado, o formalismo ritualista insiste em fossilizar-se num liturgismo a-histórico, avesso a qualquer tipo de compromisso social; de outro, é bem conhecido e notório um certo retorno à sacristia. Um espiritualismo estéril e vistoso toma o lugar da espiritualidade encarnada, com raízes do êxodo israelita e em Jesus de Nazaré. As pompas e solenidades externas, além de extravagantemente luxuosas e ostensivas, parecem dissimular não somente lacunas de ordem teológica, mas também vícios inconfessados e inconfessáveis. Em não poucas celebrações, de modo particular nos meios de comunicação e nas redes digitais, o show e o espetáculo tomaram o lugar da profecia. Se é verdade que as distintas Pastorais Sociais, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), determinadas congregações religiosas e outros setores da Igreja ainda procuram priorizar a dimensão sócio-transformadora, não é menos verdade que mesmo neste caso prevalece não raro a timidez e a arrumação da própria casa. Onde está a Igreja em saída? Onde a sinodalidade, como a participação dos leigos/as? Contra a vontade, devo reconhecer que boa parte da Igreja Católica navega na contração do Papa Francisco. 4. Política externa A reaproximação com a Comunidade Europeia e com a China, os avanços nos acordos do Mercosul e agora da cúpula da Amazônia, entre outras coisas, fazem o presidente Lula afirmar com repetida ênfase: “O Brasil voltou”. Aqui gostaria de sublinhar, simultaneamente, um ponto positivo e uma preocupação. O ponto positivo, evidentemente, tem a ver com o retorno do Brasil ao complexo cenário da política internacional. Enquanto o governo anterior isolou o país a ponto de este tornar-se um pária, o atual governo retoma os debates que envolvem todo o planeta, como são, por exemplo, a emissão de gases poluentes, de um lado, e a preservação do meio ambiente, por outro. Inegável que o Brasil exerce um papel decisivo e preponderante do palco na política externa, devido não só aos cuidados com a região amazônica e à produção alimentos, mas também à figura do próprio Luiz Inácio Lula da Silva como estadista. Justamente dessa figura do Lula vem a preocupação. Onde o presidente, neste seu terceiro mandato, encontra maior apoio: nas democracias consolidadas do exterior ou nas forças sociais internas? Sem dúvida, aqui existe uma boa dose de pimenta nos olhos de todos nós. Se for verdade que o maior sustento de Lula vem de fora e não de dentro, como transformar isso em votos nas eleições que se seguem em 2022 e 2m 2026. Não necessariamente votos para a pessoa do Lula, claro, mas para o projeto que, bem ou mal, ele representa. Em termos de política democrática, não cabe mais o culto ao personalismo, ou ao “salvador da pátria”. E a esta altura vai o desafio: de que maneira transformar o reconhecimento e apoio externo em organização interna, com vistas a dar prosseguimento a esse projeto democrático? Numa palavra, como salvar o rumo da democracia brasileira? Não basta a pressão externa. Ela é necessária, mas deve despertar e mobilizar igualmente a pressão interna, para que o Brasil possa eliminar de vez o espectro do autoritarismo e do nazi-fascismo. A garantia do processo democrático, conquistado a duras penas, repousa acima de tudo sobre os cidadãos e cidadãs de cada país autônomo. Soberania e democracia, combinadas, residem em nossas mãos. Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, São Paulo, 05/08/2023

  • Goiânia faz reunião em preparação ao 29º Grito

    Veja a reportagem da TV PUC Goiás A reunião aconteceu na sede do Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino Superior – Sint-IFESGO, no dia 07/08 – Dia D do Grito. "Você tem fome e sede de quê?" Essa é a pergunta que ecoa nas ruas de Goiânia, capital de Goiás, em um estado rico em agronegócio. O Lema do Grito desse ano não é apenas uma pergunta retórica. Em um estado referenciado pelo agronegócio e exportação de alimentos, é paradoxal e alarmante que muitos/as ainda passem fome. Segundo dados do IBGE, o Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave. Em Goiás, apesar de sua produção agrícola robusta, muitos/as ainda enfrentam essa realidade. O Grito dos Excluídos, que acontece anualmente no dia 7 de setembro, data da independência do Brasil, busca dar visibilidade às violações de direitos humanos. Em especial, no estado de Goiás, o foco é na segurança alimentar. Mas o movimento vai além. Ele/a questiona outras "fomes" que a sociedade enfrenta: fome de justiça social, fome de direitos, entre outras.

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