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Foto do escritorGrito dos/as Excluídos/as

Você tem fome e sede de quê?


Quantas fomes e quantas sedes rodam nossas portas e nossas casas? - pergunta o Grito dos Excluídos deste ano. Isso mesmo, fomes e sedes no plural. A fome de comida e a sede de bebida servem aqui de metáforas para tantos desejos e tantas necessidades frustradas! Não basta o pão, não basta a água. Pão e água, neste caso, simbolizam uma série de direitos violados no dia-a-dia por aqueles que dominam o dinheiro, o saber e o poder.


Evidentemente não podemos passar sem o de-comer e o de-beber. Mas isso apenas nos mantém de pé, a exemplo das árvores. Vegetamos! O ser humano foi criado para algo mais do que a mera sobrevivência. Esta, quando mínima, nos condena a rastejar no pó da terra, ou a nos imbobilizar como parasitas pelas ruas e calçadas.


Diferentemente dos vegetais e dos animais, homens e mulheres, além de pão e água, necessitam de terra e trabalho, roupa e moradia, saúde e educação, salário justo, assistência social e previdenciária, transporte e lazer... Enfim, todos os direitos pessoais e civis que garantem a base da dignidade humana.


Mais que isso. O homem e a mulher são seres sociopolíticos. Vivem em comunidade e têm o direito e o dever de participar de suas decisões básicas. Não são apenas trabalhadores e trabalhadoras, são cidadãos e cidadãs. Aqui o voto não resolve tudo: urge criar canais, instrumentos e mecanismos de participação popular. Em última instância, temos o direito e o dever de decidir o quê, como e para quem produzir e destinar os bens indispensáveis a toda população. Política e economia dizem respeito a todos e todas. Delas ninguém pode se isentar ou ser rechaçado.


E nossa fome e sede não param por aí. Somos seres racionais e inteligentes, potencialmente destinados a participar da criação, co-criadores. Queremos que "nossa casa comum" seja a pátria te todo ser humano, e precisamos cuidar para que as gerações futuras possam herdar o planeta terra como patrimônio preservado. Criativos que somos, temos a capacidade de produzir bens culturais e estéticos, expressões religiosas e artísticas, valores imortais... Não cabemos na pele e no corpo com que viemos ao mundo. As potencialidades criativas que recebemos nos projetam para a esfera do divino.


Em conclusão, precisamos, sim, dos bens terrenos para saciar nossa fome e nossa sede. Mas estas vão além. Têm raízes na terra, claro, mas não se esgotam no percurso de nossa trajetória humana. Estão projetadas para buscar a vida em primeiro lugar, para superar as coordenadas históricas e, enfim, caminhar em direção ao Reino dos Céus.


Pe. Alfredo J. Gonçalves, SP, 09/07/2023

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